domingo, 20 de dezembro de 2009

Feliz Nat... ah, deixa pra lá.



Amigos,

O blog entrará em recesso até o comecinho de Janeiro. A equipe (hã?) do Bíblia com Limão e Gelo deseja boas festas e um feliz ano novo, esteja você celebrando o nascimento do Carpinteiro da Galiléia ou não.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Gênesis 16


'Abrão, Sarai e Agar fazem um bem-bolado' de Adriaen van der Werff

Gosta de pornografia na internet? Ótimo, porque você está no site certo! Nossa história andava um pouco confusa e entediante, mas parece que os roteiristas se tocaram que samba, suor e sacanagem dão ibope. “Sarai, mulher de Abrão, não lhe tinha dado filho; mas, possuindo uma escrava egípcia, chamada Agar, disse a Abrão: ‘Eis que o Senhor me fez estéril; rogo-te que tomes a minha escrava, para ver se, ao menos por ela, eu posso ter filhos’”. Exatamente! “Abrão, por favor, trace esta escrava já que sou estéril, sim?”. O melhor é o desfecho destes dois versículos. “Abrão aceitou a proposta de Sarai.” (Gênesis 16:1-2). Ah vá! Sério? Pobre homem.

Eis que Abrão agasalhou seu croquete sem dó na escrava Agar, a egípcia, engravidando-a. Podemos acusar Abrão de muitas coisas, mas o velho dá no couro, viu? Consta que ele tinha seus 85 anos durante o ocorrido. Teriam os habitantes de Canaã acesso à Catuaba Selvagem? Cerveja Caracu batida com ovo e amendoim? Mistério.

Já “Agar, vendo que tinha concebido, começou a desprezar a sua senhora.” (Gênesis 16:4). Mudava de canal bem na hora da novela de Sarai, largava louça suja na pia, devolvia forma de gelo vazia no freezer e coisas do gênero. A vida a três ficara insuportável. “Então Sarai”, com o rolo de macarrão na mão, “disse a Abrão: ‘Caia sobre ti o ultraje que me é feito! Dei-te minha escrava, e ela, desde que concebeu, olha-me com desprezo. O Senhor seja juiz entre mim e ti!’” (Gênesis 16:5). Abrão, com uma covardia digna dos homens preferidos de Deus, responde: “Tua escrava está em teu poder, faze dela o que quiseres.". Ele lavou as mãos. A mulher na Bíblia é essencialmente uma boneca inflável que gera herdeiros, e Abrão estava cagando para Agar e o filho na barriga dela. Sarai aproveitou a luz verde e “maltratou-a de tal forma que ela teve de fugir.” (Gênesis 16:6).

A escrava Agar, a egípcia, pôs-se a vagar pelo deserto, com náuseas, pés inchados e desejos repentinos por bolo de chocolate, até se deparar com um anjo do Senhor! Isso, mesmo! Não era um louco usando asas de arame e algodão, nem uma alucinação por estar vagando pelo deserto. Era um anjo mesmo! E “disse-lhe: ‘Agar, escrava de Sarai, donde vens? E para onde vais?’ (desinformado esse anjo, né?) ‘Eu fujo de Sarai, minha senhora’, respondeu ela. ‘Volta para a tua senhora, tornou o anjo do Senhor, e humilha-te diante dela.’ E ajuntou: ‘Multiplicarei tua posteridade de tal forma, e será tão numerosa, que não se poderá contar.’” (Gênesis 16:8-10). Sério? Esse papo de “multiplicar a posteridade” de novo? Isso é o melhor que Deus tem a oferecer? “Você será uma escrava, vai servir de parideira para seu dono e vai ser maltratada pela sua dona. Mas vou multiplicar sua posteridade, ok?”. Uau! Obrigado Senhor, por esta graça! E na bundinha não vai nada?

Pois o anjo do Senhor ainda profetiza: "Estás grávida, e vais dar à luz um filho: dar-te-ás o nome de Ismael, porque o Senhor te ouviu na tua aflição (ouviu mesmo?). Este menino será como um jumento bravo: sua mão se levantará contra todos e a mão de todos contra ele, e levantará sua tenda defronte de todos os seus irmãos." (Gênesis 16:11-12). Opa! Todo mundo sabe que um menino como jumento bravo é encrenca! E se, além de bravo, também for esperto como um jumento, não podemos exigir notas altas no boletim do jovem.

Agar deu ao Senhor, que lhe tinha falado, o nome: Vós sois El-roí, ‘porque, dizia ela, não vi eu aqui mesmo o Deus que me via?’” (Gênesis 16:13). Explico: Agar chamou o anjo (“Senhor que lhe tinha falado”) o nome de El-roí, que significa “Deus que vê”. Deus (ou o anjo, ou sei lá quem) não viu Abrão usar e descartar a escrava Agar, nem viu Sarai a maltratar até ela não agüentar mais, e nem sabia de onde nem para onde ela ia. Mas mesmo assim ganhou o título de “Deus que vê”. Eu o chamaria de “Deus que está precisando de óculos”.

Enfim, Agar finalmente dá à luz ao rebento chamado Ismael. “Abrão tinha a idade de oitenta e seis anos quando Agar lhe deu à luz Ismael.” (Gênesis 16:16). Não falei que o velho ainda tinha bala na agulha?

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Gênesis 13-15

Depois do vexame que Abrão e banda deram no Egito, eles voltaram para Betel. “Abrão”, o narrador faz questão de salientar, “era muito rico em rebanhos, prata e ouro” (Gênesis 13:2), “graças ao bumbum empinadinho de Sarai”, o narrador faz questão de esconder. Mas o que importa é que Abrão e seu sobrinho Lot resolveram dividir essas terras de meu Deus, para que seus respectivos pastores pudessem pastorear à vontade. “Abrão fixou-se na terra de Canaã, e Lot nas cidades da planície, onde levantou suas tendas até Sodoma” (Gênesis 13:12).

Apesar de ainda faltar alguns capítulos para a história tratar de Sodoma e Gomorra, o narrador já nos adianta que “os habitantes de Sodoma eram perversos, e grandes pecadores diante do Senhor” (Gênesis 13:13). A putaria rolava solta. Era Festa do Coqueiro (pode trepar que não tem galho) toda noite. Aguardem os próximos capítulos e voltemos à nossa história.

Assim que Lot deixou seu tio sozinho (coincidência?), o amigo imaginário de Abrão (Deus) lhe aparece para revelar mais abobrinhas. Entre uma bobagem e outra, o Senhor diz que a descendência de Abrão será “tão numerosa como o pó da terra: se alguém puder contar os grãos do pó da terra, então poderá contar a tua posteridade” (Gênesis 13:16). Pó da terra. Não como as estrelas no firmamento, nem como as gotas no oceano ou algo mais poético. Como o pó mesmo. Acho que foi um elogio. Enfim. Abrão “veio fixar-se no vale dos carvalhos de Mambré, que estão em Hebron; e”, tava demorando, “ali edificou um altar ao Senhor” (Gênesis 13:18).

O que acontece depois, em Gênesis 14, é uma salada de reis e nações cujos nomes parecem doenças do couro cabeludo. Mas, como sempre, eu troco em miúdos para você. Os reis de Sodoma, Gomorra, entre outras nações, serviam a um rei chamado Cordo... Codorno... Codorlaomor (ufa!). Depois de 12 anos, o saco deles enchem e eles entram em guerra contra Comolargador (tá certo?) e companhia. Depois de muito quebra-pau, os reis de Sodoma e Gomorra perdem a batalha e, no meio da confusão, Lot, sobrinho de Abrão, é seqüestrado pela gangue de Cornolamastor (quem?). Abrão, juntamente com uma equipe da Swat, vai ao resgate de seu sobrinho, dá uma surra em Courola... (ah, foda-se, desisto!) e ainda recupera os bens saqueados na batalha.

Um dos reis vingados por Abrão, “Melquisedeque, rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, mandou trazer pão e vinho (ai, ai. A última vez que tinha vinho na jogada não acabou bem), e abençoou Abrão, dizendo: ‘Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que criou o céu e terra! Bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos em tuas mãos!’ E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo” (Gênesis 14:20). É, meu caro. Esse papo de ‘dê o dízimo para o padre/pastor/sacerdote do Deus Altíssimo’ vem de longe. Se você acha que Abrão é exemplo a ser seguido, entregue sua mulher para o faraó também. E o desprendimento material de Abrão não acaba por aí. “O rei de Sodoma disse a Abrão: ‘Devolve-me os homens e guarda os bens’. ‘Levanto a minha mão para o Senhor Deus Altíssimo que criou o céu e a terra, respondeu Abrão, de tudo o que é teu, não tomarei sequer um fio nem um cordão de sandália, para que não digas: Enriqueci Abrão” (Gênesis 14:21-23). Abrão não quer saber de rabo preso nem ninguém esfregando favor na cara dele.

O tempo passa, e Abrão tem mais uma visão (leia-se “alucinação”) do Senhor Altissíssimo, em que ele diz "’Nada temas, Abrão! Eu sou o teu protetor; tua recompensa será muito grande’ Abrão respondeu: ‘Senhor Javé, que me dareis vós? Eu irei sem filhos, e o herdeiro de minha casa é Eliezer de Damasco.’" (Gênesis 15:1-2). Ok, vamos por partes. Aparentemente, o nome do Glorioso Senhor Altíssimo Criador Do Céu E Da Terra E De Tudo Que Tem O Sopro De Vida é... Javé. Meio decepcionante, né? Outros deuses tem nomes mais impactantes, como Zeus, Thor, Shiva! Mas Javé... sei lá... rima com “nhé”. Enfim, estou devaneando. Sobre a preocupação de Abrão, explico: Sarai era estéril (sorte dela que era gostosa, senão já teria sido trocada por um camelo), e por isso, o herdeiro de Abrão seria o escravo nascido em sua casa, Eliezer.

Mas o Senhor diz: "Não é ele que será o teu herdeiro, mas aquele que vai sair de tuas entranhas. (...) Levanta os olhos para os céus e conta as estrelas, se és capaz... Pois bem, ajuntou ele, assim será a tua descendência. (...) Eu sou o Senhor que te fiz sair de Ur da Caldéia para dar-te esta terra" (Gênesis 15:4-7). Abrão, que parece estar passando por uma crise de autoconfiança, choraminga: “O Senhor Javé, como poderei saber se a hei de possuir?" (Gênesis 15-8).

Agora, amigo leitor, a história descamba para uma seqüência tão sem sentido que faria um hippie chapado em LSD fazer “heim?”. Vamos dar as mãos.

O Senhor diz a Abrão: "Toma uma novilha de três anos, uma cabra de três anos, um cordeiro de três anos, uma rola e um pombinho." (Gênesis 15:9). Isso, uma rola. Quando a piada já vem pronta, não me resta muito que fazer. Adiante. “Abrão tomou todos esses animais, e dividiu-os pelo meio, colocando suas metades uma defronte da outra; mas não cortou as aves” (Gênesis 15:10). Peraí, Abrão! Deus só te disse para “tomar” esses animais! Onde você entendeu que era para esquartejá-los? Um cara desse só pode ser doido. Enfim. “Vieram as aves de rapina e atiraram-se sobre os cadáveres, mas Abrão as expulsou. E eis que, ao pôr-do-sol, veio um profundo sono a Abrão, ao mesmo tempo que o assaltou um grande pavor, uma espessa escuridão.” (Gênesis 15:11-12).

Depois desse ritual psicodélico, o Senhor Javé reaparece para Abrão com uma profecia: “Sabe que teus descendentes habitarão como peregrinos uma terra que não é sua, e que nessa terra eles serão escravizados e oprimidos durante quatrocentos anos” (Gênesis 15:13), entre outras abobrinhas. E depois, “quando o sol se pôs, formou-se uma densa escuridão, e eis que um braseiro fumegante e uma tocha ardente passaram pelo meio das carnes divididas.” (Gênesis 15:17). Hã?!? Para finalizar, Deus diz: “Eu dou, disse ele, esta terra aos teus descendentes, desde a torrente do Egito até o grande rio Eufrates: a terra dos cineus, dos ceneseus, dos cadmoneus, dos heteus, dos ferezeus, dos amorreus, dos cananeus, dos gergeseus e dos jebuseus." (Gênesis 15: 18-21). O que o senhor gosta mesmo de fazer é dar terrenos para Abrão. E acabou.

Achou confuso, chato, complicado e sem sentido? Eu também. Vou tentar resumir estes três capítulos de forma rápida e rasteira:

- Abrão e seu sobrinho Lot dividiram as terras para seus pastores.
- Houve uma guerra, Lot foi seqüestrado e Abrão foi resgatá-lo.
- Nós, leitores, temos que dar o dízimo para o padre/pastor.
- Abrão fica preocupado que não vai ter descendentes. Deus dizer para ele relaxar e gozar. Mesmo.
- Abrão mata um bando de animais, inclusive uma rola, sem o menor propósito.
- Deus diz que os descendentes de Abrão vão ser escravizados por 400 anos. Fim.

Prometo que nos próximos capítulos a história fica mais divertida. Fiquem com Deus.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Gênesis 12

Nos próximos capítulos, vamos acompanhar as aventuras de um personagem muito importante chamado Abrão (isso, Abrão. Eu também achei que estava faltando um “a”, mas vocês não perdem por esperar). O número dele foi sorteado na loteria divina e o Senhor resolveu que, dali para frente, ele iria ajudar a ele e a quem o seguisse. Quem torcesse por outro time, Deus iria foder. Veja: “O Senhor disse a Abrão: ‘Deixa tua terra, tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que eu te mostrar. Farei de ti uma grande nação; eu te abençoarei e exaltarei o teu nome, e tu serás uma fonte de bênçãos. Abençoarei aqueles que te abençoarem, e amaldiçoarei aqueles que te amaldiçoarem; todas as famílias da terra serão benditas em ti’” (Gênesis 12:1-3).

Pois bem. Amanheceu, Abrão pegou a viola, botou na sacola, “tomou Sarai, sua mulher, e Lot, filho de seu irmão, assim como todos os bens que possuíam e os escravos que tinham adquirido em Harã” (Gênesis 12:5), e foi viajar. Ele provavelmente “adquiriu” esses escravos numa bela promoção de queima-de-estoque e não podia deixá-los para trás. Chegando à terra de Canaã, “o Senhor apareceu a Abrão e disse-lhe: ‘Darei esta terra à tua posteridade.’ Abrão edificou um altar ao Senhor, que lhe tinha aparecido”(Gênesis 12:7). (Nota do autor: Caso o Senhor “lhe apareça”, verifique se a maionese que você comeu no lanche estava na validade antes de edificar um altar. Especialmente se você estava peregrinando pelo deserto, onde maioneses estragam bem rápido).

Abrão seguiu viagem até depois de Betel, onde edificou mais um altar para puxar o saquinho do Senhor. O que parece que não adiantou muita coisa, pois, por causa da fome e da miséria que se abateu no local, Abrão teve que se mudar para o Egito, onde a coisa não estava tão feia. Mas Abrão, esperto que é (ou nem tanto, como veremos), se tocou que sua esposa Sarai era um pitéuzinho de parar o trânsito e disse: “Escuta, sei que és uma mulher formosa. Quando os egípcios te virem, dirão: 'É sua mulher', e me matarão, conservando-te a ti em vida. Dize, pois, que és minha irmã, para que eu seja poupado por causa de ti, e me conservem a vida em atenção a ti." (Gênesis 12:13). Ah, mas foi tiro e queda! Os egípcios ficaram de queixo no chão com o decote generoso e o rebolar malemolente de Sarai. “Os grandes da corte, vendo-a, elogiaram-na diante do faraó, e a mulher foi introduzida no seu palácio (veja bem, quem introduziu mesmo foi o faraó). Por causa dela, Abrão foi bem tratado pelo faraó, e recebeu ovelhas, bois, jumentos, servos e servas, jumentas e camelos” (Gênesis 12:16). (Por que exatamente “servos e servas” aparece entre “jumentos” e “jumentas” eu não sei. Haveria alguma mensagem subliminar aqui?).

Você leu certo, fiel leitor. Enquanto Sarai brincava de pega-vareta e rolentrando com o faraó, Abrão reabasteceu sua fazendinha ambulante com presentes. Como se não estivesse absurdo o suficiente, Deus apareceu e “feriu com grandes pragas o faraó e a sua casa, por causa de Sarai, mulher de Abrão” (Gênesis 12:17)! Como assim?!? Abrão foi covarde e mentiroso, entregando a esposa como se entrega uma bicicleta velha, para salvar a própria pele. O faraó, por não ter poderes psíquicos, não adivinhou que Sarai era a esposa de Abrão, e passou a vara (ou seria o cetro?) na mulher. E quem Deus, em sua glória, resolveu foder com grandes pragas? O faraó!

Depois de muito bater o dedinho do pé com toda força no pé da mesa; depois de muitas vezes ter sua torrada caindo com a manteiga para baixo; depois de muitas vezes sair do banho e perceber que a toalha já estava molhada, a ficha do faraó caiu. Ele estava sofrendo as pragas do Senhor porque comeu a mulher de Abrão. Puto, e com razão, mandou chamar Abrão e disse: "’Que me levaste a fazer? Porque não me disseste que era tua mulher? Por que disseste que ela era tua irmã, levando-me e a tomá-la por esposa? Mas agora eis tua mulher: toma-a e vai-te (‘para a puta que te pariu’, eu teria adicionado)!’ Então, o faraó deu ordens aos seus para reconduzir Abrão e sua mulher com tudo o que lhe pertencia" (Gênesis 12:19-20). Aparentemente o faraó nem pediu os presentes de volta, tamanha era a pressa para não ter que ver a cara de Abrão. “E os presentes?” teria perguntado Abrão. “Enfia no rabo!” bradaria o faraó.

E essa foi a primeira aventura de nosso amigo Abrão. Agora, será que ele realmente precisaria ter entregado a mulher para o faraó? Não quero parecer repetitivo, mas não seria mais fácil se:

a) Abrão tivesse dito para o faraó: “Sim, ela é gostosa, é minha mulher, mas eu sou um protegido de Deus. Se você me matar e/ou tomá-la como esposa, pragas cairão sobre você!”?

b) Abrão tivesse dito para o faraó: “Sim, ela é gostosa, é minha mulher, mas está com doenças sexualmente transmissíveis que derrubariam um camelo. Coloca a piroca lá dentro e você vai ver o que é praga divina.”?

c) Sarai tivesse disfarçado sua formosura com um travesseiro na barriga, uma verruga falsa na cara ou algo do gênero?

Talvez Abrão não tenha escolhido nenhuma das alternativas porque ele, na verdade, achou ótimo ganhar ovelhas, bois, jumentos, servos e servas, jumentas e camelos. Enfim. Acho que é isso.

P.S.: Não quero julgar Abrão por ter seus escravinhos. Essa história foi escrita há mais de 3000 anos atrás (aqui a expressão “mais antigo do que o rascunho da bíblia” se encaixa perfeitamente) e, se qualquer um de nós vivesse naquela época, iria achar a escravidão normal. Eu mesmo teria um escravo digitando este blog para mim. O que me revira o estômago, é que muitas pessoas acham que a Bíblia é uma fonte de valores para os dias de hoje. Mas, acho que já falei disso... obrigado e desculpe.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Gênesis 10-11


Café. Forte, bem forte. É o que você vai precisar para suportar alguns dos capítulos que vem por aí. São páginas e páginas que poderiam ser resumidas em um desenho de uma árvore genealógica. Mas minha missão nesse mundo-de-meu-deus é trocar a Bíblia em miúdos para você. E avacalhar um pouquinho, que não mata ninguém (ou mata?).

Começamos com uma listagem dos descendentes do nosso velho, muito velho, conhecido Noé. Apesar de bem chato, é uma boa fonte de nomes, caso você não saiba como batizar seu filho, cachorro ou gato. Veja: Gomer, Magog, Madai, Javã, Tubal, Mosoc, Tiras, Ascenez, Rifat Togorma, Elisa, Társis, Cetim e Dodanim. Eu, particularmente, gostei de Magog. E, cá pra nós, Cetim é um luxo, né? Quer mais? Cus (isso, Cus), Mesraim, Fut, Saba, Hevila, Sabata, Regma, Sabataca, Saba e Dadã. Enfim, o que não falta é nome de monstro de seriado japonês.

Mas o que importa disso tudo é que “tais são as famílias dos filhos de Noé, segundo suas gerações e suas nações. É dele que descendem as nações que se espalharam sobre a terra depois do dilúvio” (Gênesis 10:32). Um detalhe que é bom guardar (segundo recomendações de um amigo estudioso das Escrituras / vide comentários de Gênesis 9), é que a nação descendente de Canaã (o moleque que bobeou e virou escravo), os Cananeus, habitaram a região de Sodoma e Gomorra. Muita porno-chanchada ainda vai rolar nessas terras.

Em Gênesis 11 a história engata de novo, mas por pouco tempo. “Toda a terra tinha uma só língua, e servia-se das mesmas palavras. Alguns homens, partindo para o oriente, encontraram na terra de Senaar uma planície onde se estabeleceram. E disseram uns aos outros: ‘Vamos, façamos tijolos e cozamo-los no fogo.’ Serviram-se de tijolos em vez de pedras, e de betume em lugar de argamassa” (Gênesis 11:1-3). Betume, amigo leitor, é uma meleca derivada do petróleo que gruda mais que miojo na panela. Depois dessa revolução na engenharia civil, o próximo passo era óbvio e inevitável. “Depois disseram: ‘Vamos, façamos para nós uma cidade e uma torre cujo cimo atinja os céus. Tornemos assim célebre o nosso nome, para que não sejamos dispersos pela face de toda a terra’” (Gênesis 11:4). É a famigerada Torre de Babel!

Mas o Senhor não gostou nada dessa história de sair construindo grandes torres por aí! Imagina se eles realmente chegam aos céus? Deuses também merecem um pouco de privacidade, oras. Mas o Todo-Poderoso, astuto e sagaz que é, percebeu logo qual era o segredo do sucesso dessa turma e disse: "Eis que são um só povo, disse ele, e falam uma só língua: se começam assim, nada futuramente os impedirá de executarem todos os seus empreendimentos. Vamos (“vamos”? “vamos” quem? com quem diabos ele está falando?): desçamos para lhes confundir a linguagem, de sorte que já não se compreendam um ao outro" (Gênesis 11:6-7). Pois é, Deus resolveu jogar água no chopp da turma. O Senhor só gosta de iniciativa se for para queimar ovelhas em homenagem a ele.

Vamos lá. Deus, para impedir que esses engenheiros construíssem uma torre muito alta, fez cada um falar uma língua diferente. Desculpe, mas essa estratégia que o Senhor inventou para embargar a obra da Torre de Babel foi péssima. Ele teve que alterar a região do córtex cerebral responsável pela linguagem de cada um deles! Será que não seria mais fácil:

a) Simplesmente esconder o tal do betume?
b) Quando a torre estivesse quase pronta, causar um terremoto para derrubá-la e fazer “oops!”?
c) Ameaçar todos dizendo “parem já com essa obra senão eu mando um dilúvio para afogar todo mundo”? Tenho certeza que todos saberiam que o Senhor não está blefando.
d) De fato mandar um dilúvio para afogar todo mundo? Com o histórico de assassinatos que nosso bom Deus tem, ninguém ia notar.

Mas, bem ou mal, o truque do Senhor funcionou. “Foi dali que o Senhor os dispersou daquele lugar pela face de toda a terra, e cessaram a construção da cidade” (Gênesis 11:8). E é por isso, segundo esse livro de fábulas, que existem tantas línguas no mundo. Porque Deus não quis que o homem construísse torres altas. Mas de certa forma, o tiro saiu pela culatra. Muitos anos depois, várias pessoas falando línguas diferentes construíram a Estação Espacial Internacional e a colocaram em orbita. É alto o suficiente para você?

Infelizmente, depois dessa fantástica (?) história, o capítulo descamba para descrever genealogias de novo. Não dá, né? Tchau, arrivederci, au revoir!