segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Gênesis 42-45


Os irmãos de José são pegos com o dedo no mel.

Queima na Glória, leitor!

José, que agora era administrador do Egito, estava por cima da carne seca. Vivia de banho tomado, cabelo engomado, rái-bã e palito na boca. Já nas terras adjacentes ao Egito, inclusive onde viviam seus irmãos que há muito passaram-lhe a perna, a crise se abatia e não tinha trigo nem pra fazer sopa. Mesmo assim, os irmãos de José só queriam saber de acordar meio-dia e jogar videogame até de madrugada. Nenhum filhodeputa levava nem o lixo pra fora. O velho Jacó, que não era lá muito famoso pela paciência, já estava ficando puto. “Por que estais olhando uns para os outros, porra? Eu soube que há trigo no Egito. Descei lá e comprai-o para nós; poderemos assim viver e escaparemos à morte" (Gênesis 42:1-2). O único que se safou da viagem foi Benjamim, segundo mais novo e inventor do multiplicador de tomadas, que ficou por ordem do próprio Jacó. Vai entender a cabeça desse velho idiota.

Quando chegaram frente a José para comprar víveres, sequer o reconheceram, de tanto tempo que havia se passado e por causa do bigode falso, comprado na 25, que ele estava usando. Mas José os reconheceu e, escroto que era, resolveu fazer uma pegadinha. Dizem que o diálogo foi mais ou menos assim:

- “O que querem agora esses punheteiros à minha frente? De onde caralho vieram?”, disse José.
- “Da terra de Canaã, para comprar víveres.
- “Paus em vossos cus. Vocês são espiões, maconheiros e pederastas.”
- “Não, meu senhor, teus servos vieram comprar víveres. Somos todos filhos dum mesmo pai, somos gente honesta; teus servos não são espiões.”
- (José com os olhos fechados e dedos nos ouvidos:) “Lálálálálálá! Eu não tô ouvindo nadaaaaa!”
- "Somos doze irmãos, filhos dum mesmo pai, na terra de Canaã. O mais novo está agora em casa de nosso pai, o outro já não existe." (Gênesis 42:7-13)
- “LÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁlálálálálálálálálálálálá!”
Aos irmãos de José só restou olharem uns para os outros, com cara de ponto de interrogação.
- “Ok, basta dessa putaria”, disse José finalmente, “já ouvi o suficiente. Janjão!!!”. Um agrandalhado guarda-costas em típicos trajes egípcios entrou na câmara. “Jogue esses mãos-peludas no xilindró! E não os dê o pote de vaselina. Eles merecem conhecer a verdadeira hospitalidade egípcia... MUUAAAHAHAHAHAHA!”.

Que pulha que esse José se tornou, né? Mas depois de três dias, muita penetração anal e nenhuma gota sequer de vaselina, José resolveu fazer um acordo com seus prisioneiros. “Um de vocês punheteiros deve ficar aqui como refém, enquanto os outros podem voltar para Canaã levando a merda do trigo que vocês tanto querem. Tragam esse irmão mais novo, Benjamim, para a minha presença para provar que falam a verdade, e paro de comer-lhes o cu”. E assim o fizeram, deixando Simeão como refém e noivinha do presídio. Mas os ardis de José ainda não haviam terminado. Antes de partirem, José colocou o dinheiro de cada um dos irmãos de volta nos seus respectivos sacos de trigo, de modo que os víveres saíram de graça. Pegou? Nem eu.

Quando chegaram de volta a Canaã, na casa de seu pai Jacó-barra-Israel, os irmãos de José abriram seus sacos de trigo, encontraram seu dinheiro nas bocas dos sacos e ficaram sem entender bosta. Contaram o que havia se passado para seu pai, dizendo que deixaram Simeão como cheque-caução e que tinham que levar Benjamim para o Egito. O velho Jacó ficou de mimimi: “José já não existe, Simeão tampouco, e quereis me tomar ainda Benjamim!” (Gênesis 42:36). Mas papo foi, papo veio e Jacó se convenceu, ainda ordenando que levassem bens para puxar o saco de José. “Se assim é, tomai em vossas bagagens os melhores produtos da terra, e levai-os como presente a esse homem: um pouco de bálsamo, um pouco de mel, resina, láudano, nozes de pistácia e amêndoas” (Gênesis 43:11). Quem não gosta de resina, né?

E assim os irmãos montaram em seus jumentos e rumaram de volta para o Egito. Quando José viu que seus irmãos cumpriram com o prometido, mandou preparar-lhes um almoço digno. “Faze entrar estes chupa-rolas na casa, mata uma vaca, um carneiro ou sei lá o caralho que a gente cria, e prepara-o, pois comerão comigo ao meio-dia”. Mas os irmãos ainda estavam com o cu na mão, temendo o que José iria fazer achando que eles haviam levado o dinheiro de volta. “Desculpa, meu senhor,” disseram eles, cagando-se todos, ao intendente de José, Janjão, “viemos já uma vez comprar víveres. Quando chegamos à estalagem e abrimos nossos sacos, o dinheiro de cada um se encontrava na boca de seu saco: era o peso exato do dinheiro. Tornamos a trazê-lo conosco; e trazemos, ao mesmo tempo, outro dinheiro para comprar víveres. Não sabemos quem tenha metido nosso dinheiro em nossos sacos". Ao que Janjão respondeu “ficai tranqüilos, nada temais, relaxa senão não encaixa. É o vosso Deus, o Deus de vossos pais, quem vos pôs um tesouro em vossos sacos; o vosso dinheiro me foi entregue” (Gênesis 43:20-23). Quer dizer então que esse tal de “vosso Deus” faz brotar dinheiro em saco, é? Só que não, porque quem colocou o dinheiro foi o escroto do José.

Durante o almoço, José perguntou para seus irmãos (que ainda não o reconheciam, lembrem-se) sobre seu pai. "Vosso velho pai, do qual me falastes, vai bem? Ou vive babando e se cagando?”. “Teu servo, nosso pai, está passando bem, e vive ainda” (Gênesis 43:28), responderam numa mesura. José se emocionou. Mas enfim, almoçaram, conversaram, riram e dizem até que rolou um carteado, uma mãozinha de buraco, se é que você me entende.

Pensa que acabou? Pensou errado, incauto leitor. José ainda tinha mais uma falcatrua reservada para seus irmãos e disse para seu fiel intendente: “Enche de trigo, pão dinheiro e o cacete a quatro os sacos destes homens, tanto quanto possam conter. Mas só pra foder com a cabeça deles mais uma vez, porás minha taça de prata na boca do saco do mais novo. Seguirás eles pelo deserto para pegá-los com a boca na butija! Uahá! Glu-glu! Pegadinha do José!” Mas que filho de uma puta esse José, heim? E assim foi feito. Quando Janjão enquadrou os irmãos, que não haviam roubado nada, eles tinham certeza que só podia ser um engano. “Pó-pará, seo intendente! Que aquele dos teus servos com quem for encontrada a taça morra, e, ao mesmo tempo, nós nos tornemos escravos do meu senhor" (Gênesis 44:9). Quando foram levados de volta (é... de novo...) para José, lá estava a taça de prata no saco do jovem Benjamim. Póta-quéu-paréu, pensaram os irmãos enquanto rasgavam as próprias vestes inconformados. O pulha do José não perdeu tempo para dar um esculacho. “Que bonito, heim, seu bando de filhos de putas! Que bonito! Vamos fazer assim: Benjamim, que foi encontrado com a taça e que tem a bundinha mais tenra [plim! piscadela!], será meu escravo. Vocês outros, voltem para suas casas e suas vidinhas ridículas na Terra de Canaã.” Mas Judá, um dos irmãos, sabia que, se o velho Jacó perdesse Benjamim, era piripaque na certa. “Rogo-te, pois,” implorou ele para José, “aceita que teu servo fique escravo de meu senhor em lugar do menino, para que este possa voltar com seus irmãos” (Gênesis 44:33).

Minha gente, que bololô, não é? Nem José podia mais levar adiante aquela farsa, aquele teatro, aquela pantomima macabra e doentia! “BASTA!!!”, gritou José arrancando seu bigode falso e caindo num choro descontrolado, “Baaaaasta desta putaria louca!!! Eu sou José! EU SOU JOSÉ, caralho!!!”. Os irmãos ficaram de queixo no chão. Não podiam acreditar no que estavam vendo. O irmão caçula que há anos atrás eles chuncharam dentro de um poço para dar um fim, era o administrador do Egito esse tempo todo. José finalmente havia tirado o peso da mentira das costas e agora estava mais calmo, disposto a perdoar. “Deus, o fodão dos fodões, enviou-me adiante de vós para que subsista um resto de vossa raça na terra, e para vos conservar a vida por uma grande libertação. Apressai-vos em voltar para junto de meu pai e trazei todo mundo para o Egito. Trazei suas esposas, filhos, netos, cachorro, papagaio e o cacete. Habitarás na terra de Gessém, bem perto de mim, e terão tudo de bom e do melhor do Egito: apartamento com varanda, churrasqueira, piscina e quadra poli-esportiva! Glória!!!”. E assim o fizeram. Voltaram para Canaã e contaram tudo para o velho Jacó que, tá justo, não podia acreditar. “José, meu filho, vive ainda. Irei e o verei antes de morrer" (Gênesis 45:28). E todos fizeram as malas para mudarem-se para o Egito e viver a vida boa.

Pois é, herege leitor. Era tudo um plano do Bom Javé® para manter a raça de Abraão viva durante os anos de penúria. Fodam-se todos os outros que não são do povo escolhido. Vimos que José, fazendo jus às outras figuras patriarcais do Cristianismo (e Judaísmo... e Islamismo), é um belo de um filho da puta e não vale seu peso em merda de camelo. Manipulou seus irmãos como marionetes. Foi um vai e vem do Egito, abre o saco, fecha o saco, prende, solta... e pra quê? Pra nada! Só pra torrar a minha e a sua paciência.

A história de José ainda não acabou. Porra. Mas falta pouco.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Gênesis 40 - 41

"Quadro escuro repleto de conteúdo homo-erótico" de Alexander Ivanov, 1781 - Afresco.

Amém, irmãos? Amém. Quando deixamos nosso herói José, ele havia sido jogado num presídio para mofar e apodrecer. Mas como todo descendente d’A Putinha de Javé, Abraão, ele logo virou o jogo e se tornara um respeitado ajudante de carcereiro. A glória!

Nosso capítulo começa com a chegada de dois novos prisioneiros: o copeiro-mor e o padeiro-mor do Faraó, flagrados num esquema de notas frias e orgias com travestis anões do Leste-Europeu. “Havia já um certo tempo que estavam detidos, quando os dois prisioneiros,” entre uma enrabada e outra, “tiveram um sonho numa mesma noite, cada um o seu, com seu sentido particular” (Gênesis 40:5). José, que muito antes de Freud já se metia a interpretar sonhos, interveio: “Rogo-vos que mos conteis" (Gênesis 40:8). O copeiro-mor foi primeiro: “Em meu sonho, vi uma cepa que estava diante de mim, e nesta cepa três varas, que pareciam brotar; saiu uma flor e seus cachos deram uvas maduras. Eu tinha na mão a taça do faraó; tomei as uvas e espremi-as na taça, que entreguei na mão do faraó" (Gênesis 40:9-11). Entendeu? Três varas brotando. Uvas maduras. Seria mesmo um sonho, ou só mais uma tórrida noite com seus companheiros de cela? Engana-te, pagão imundo! “As três varas são três dias”, disse José. “Dentro de três dias, o faraó te reabilitará em tuas funções” (Gênesis 40:12-13). Hmmm, então tá então.

"Eu também, em meu sonho,” disse o padeiro-mor, “levava sobre minha cabeça três cestas de pão branco. Na de cima, havia toda a sorte de manjares para o faraó; mas as aves do céu comiam-nas na cesta que estava sobre minha cabeça" (Gênesis 40:16-17). José fez aquela cara de “veja bem”, coçou a barbicha e pigarreou. “As três cestas são três dias. Dentro de três dias, o faraó levantará a tua cabeça: ele te suspenderá numa forca, e as aves devorarão a tua carne” (Gênesis 40:18-19). Aí fodeu pro lado do padeiro. Teria ele esquecido o forno ligado e queimado a rosca do Faraó para merecer tamanho castigo? Nunca saberemos. Mas as previsões de José foram tiro e queda. Três dias depois, o copeiro-mor ganhou o emprego de levar caipirinha pro Faraó de volta. Já o padeiro-mor foi enforcado, levando para o túmulo aquela receita de pão-de-queijo. Como ele fazia pra ficar tão macio?

Dois anos se passaram e foi a vez do Faraó ter seu sonho misterioso: “Encontrava-se ele perto do Nilo, de onde saíram sete vacas belas e gordas, que se puseram a pastar a verdura. Mas, eis que saíram em seguida do mesmo Nilo sete outras vacas, feias e magras, que vieram e se puseram ao lado das outras na margem do rio. As vacas feias e magras devoraram as sete vacas belas e gordas” (Gênesis 41:1-4). O Faraó acordou no meio da noite num grito de horror. O travesseiro empapado e o pijama molhado que só pano de enrolar cuscuz. Misericórdia! Seu copeiro-mor apareceu de imediato com um copo de leitinho morno e logo o Faraó conseguiu dormir de novo. Mas os pesadelos voltaram a lhe atormentar: “Sete espigas grossas e belas (hmm...) saíam de uma mesma haste. Mas eis que em seguida germinaram sete outras espigas, magras e ressequidas pelo vento do oriente. E as espigas magras devoraram as sete espigas grossas e cheias“ (Gênesis 41:5-7). Certo. Foi o mesmo sonho, só que com espigas no lugar de vacas, né? Que bosta.

O copeiro percebendo que seu Faraó continuara a se estrebuchar inquieto na cama, lembrou-se de seu episódio na prisão com José, o famigerado Djôuzef. “Ora, estava lá conosco um jovem hebreu, escravo do chefe da guarda. Contamos-lhe nossos sonhos, e ele no-los interpretou, a cada um o seu” (Gênesis 41:12). O Faraó ficou intrigado. “Pois tragam-me este fidiputa”, bradou. José tomou um banho, se barbeou, passou desodorante, escovou os dentes e se apresentou para o Faraó. "Tive um sonho”, disse o Faraó, “que ninguém pôde interpretar. Mas ouvi dizer de ti, que basta contar-te um sonho para que tu o expliques". Mas Djôuzef, numa falsa modéstia respondeu: "Não sou eu, mas é Deus quem dará ao faraó uma explicação favorável” (Gênesis 41:15-16). Toma essa, infiel! José é um canal direto com o Bom Senhor, uma espécie de walkie-talkie cósmico. Pois bem, o Faraó contou-lhe o sonho e José matou a charada: “As sete belas vacas são sete anos, e as sete belas espigas, igualmente, sete anos; o sonho é um só”. Ah vá! “Virão em seguida sete anos de miséria que farão esquecer toda a abundância no Egito. A fome devastará o país” (Gênesis 41:26-30). Póta-quéu-paréu!, pensou o Faraó. Como poderia ele e seu povo enfrentarem estes vindouros anos de vacas magras (tirum-tish!)?

Nosso herói José, quem mais?, já veio com a solução: A quinta parte de todas as colheitas dos anos de vacas (ou espigas) gordas deveriam ser armazenadas e utilizadas durante a crise. E ainda, o Faraó deveria nomear alguém pra administrar o plano, alguém pra por ordem na casa. "Poderíamos,” disse José,”encontrar um homem que tenha, tanto como este, o espírito de Deus?" (Gênesis 41:38). Em outras palavras: “Que tal eu?”. O Faraó caiu como um pato: “Pois que Deus te revelou tudo isto, não haverá ninguém tão prudente e tão sábio como tu” (Gênesis 41:39). Ah Djôuzef, tu és uma raposa! Mas será que o Faraó não lembra que a última vez que ele concedeu regalias a José, ele acabou enroscado no manto da Senhora Faraó? Mas enfim, “o faraó, tirando o anel de sua mão, pôs na mão de José; e o fez revestir-se de vestes de linho fino e meteu-lhe ao pescoço um colar de ouro” (Gênesis 41:42). É, apesar do cristianismo pregar a humildade o desapego aos bens materiais, seus patriarcas não pareciam ter problemas em se vestir como cafetões do deserto. E de brinde, o Faraó deu a filha do Eunuco Putifar, Asenet, para José. Filha a qual eu suponho que tenha sido gerada antes do eunuco ter aceitado o emprego.

Mas enfim, os anos se passaram e o plano de José funcionou suave como uma máquina bem azeitada. As aventuras de José ainda não acabaram, mas pela segunda vez vimos ele ir do lixo ao luxo, tal qual uma Cinderela Baiana. E é isso.