terça-feira, 20 de julho de 2010

Gênesis 28


"Quadro de motel" de William Blake. Óleo sobre tela.

Alguns capítulos da santíssima Bíblia Sagrada são longos e não signficam nada. Outros são curtos e significam menos ainda, e assim é Gênesis 28. Olha como já começa. “Isaac chamou Jacó e o abençoou” (Gênesis 28:1). Sério, já queimaram na largada dessa vez. Isaac esqueceu de tudo que aconteceu no capítulo passado?!? Toda aquela novela mexicana de quarenta e seis versículos, dois pratos de filé mignon e um homem vestido de cabrito, pra conseguir uma benção. E agora, simples assim, ele chama Jacó e o abençoa?!? Só pode estar de sacanagem. Mas vamos em frente. Isaac ordena: “Não desposarás uma filha de Canaã”, porque o povo escolhido não pode se misturar com a gentalha que Deus não escolheu. “Mas vai a Padã-Arã, à casa de Batuel, pai de tua mãe, e escolhe lá uma mulher entre as filhas de Labão, irmão de tua mãe. Deus todo-poderoso te abençoe, te faça crescer e multiplicar, de sorte que te tornes uma multidão de povos” (Gênesis 28:1-3). Ou seja, Jacó, se case com uma prima e se reproduza como um fungo que vai dar tudo certo. Esaú, o irmão peludinho de Jacó, querendo agradar seu pai “foi à casa de Ismael e tomou por mulher, além daquelas que já tinha, a Maelet, filha de Ismael, filho de Abraão, irmã de Nabaiot.” (Gênesis 28:9). Por que não adicionar uma prima a sua coleção de mulheres?

Agora, herege leitor, vem o filé deste capítulo. Tremei. Jacó partiu rumo a Padã-Arã e, após caminhar um dia inteiro com o Sol fritando-lhe os cornos, resolveu parar no meio do deserto para passar a noite. “Serviu-se como travesseiro de uma das pedras que ali se encontravam, e dormiu naquele mesmo lugar.” (Gênesis 28:11). Jacó já sabia o conforto que um bom travesseiro ortopédico proporciona. Tanto conforto que ele sonhou com “uma escada, que, apoiando-se na terra, tocava com o cimo o céu; e anjos de Deus subiam e desciam pela escada.” (Gênesis 28:12). E quem estava no topo desta escada? Quem? Quem? Ele! O bom Senhor! E ele, em sua voz trovejante e reverberante, falou a Jacózinho e prometeu toda aquela baboseira de multiplicar a posteridade como os grãos de areia. É só isso que esse imbecil sabe prometer. Se ele tivesse prometido camisinhas, talvez hoje estivéssemos melhor.

Enfim, “Jacó, despertando de seu sono, exclamou: ‘Em verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia!’ E, cheio de pavor, ajuntou: ‘Quão terrível é este lugar! É nada menos que a casa de Deus; é aqui, a porta do céu.’” (Gênesis 28:16-17). Cheio de pavor! Terrível! Que impressão amigável que o Bom Senhor passa, não? Mas calma, Jacó! Será que não foi só um sonho? Se eu tivesse passado o dia no deserto e depois usasse uma pedra como travesseiro, eu também teria sonhos parecidos (mais provavelmente um elevador para as profundezas do inferno do que uma escada para o céu, mas enfim). Mas não, Jacó estava convencido de que aquele fora um genuíno vídeo educacional do Senhor. Ali era de fato a porta do céu (só pra mim que isso soa ridículo?). Tanto que ele fez um monumento de seu rijo travesseiro de pedra. “Tomou Jacó a pedra sobre a qual repousara a cabeça e a erigiu em estela, derramando óleo sobre ela.” (Gênesis 28:18). Eu, particularmente, não consigo derramar óleo sobre alguma coisa e não pensar em sacanagem. Mas esse sou eu, pervertido.

Jacó então bradou: "Se Deus for comigo, se ele me guardar durante esta viagem que empreendi, e me der pão para comer e roupa para vestir, e me fizer voltar em paz casa paterna, então o Senhor será o meu Deus. Esta pedra da qual fiz uma estela será uma casa de Deus, e pagarei o dízimo de tudo o que me derdes." (Gênesis 28:20-22). Aaahhh, agora tudo faz sentido! O dízimo! Javé vai te dar pão, roupa, uma viagem tranqüila e mais descendentes do que grãos de areia, e tudo que ele quer é seu dinheiro! Ora, mas esse é um negócio da china!

Será coincidência que, o capítulo que coloca Deus como ‘terrível’ e digno de ‘pavor’, é também o que sugere que você dê a Ele 10% de suas finanças? Ah, e caso você não encontre Javé pessoalmente, pode entregar o cheque para o padre/pastor que ele entrega depois.