domingo, 20 de dezembro de 2009

Feliz Nat... ah, deixa pra lá.



Amigos,

O blog entrará em recesso até o comecinho de Janeiro. A equipe (hã?) do Bíblia com Limão e Gelo deseja boas festas e um feliz ano novo, esteja você celebrando o nascimento do Carpinteiro da Galiléia ou não.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Gênesis 16


'Abrão, Sarai e Agar fazem um bem-bolado' de Adriaen van der Werff

Gosta de pornografia na internet? Ótimo, porque você está no site certo! Nossa história andava um pouco confusa e entediante, mas parece que os roteiristas se tocaram que samba, suor e sacanagem dão ibope. “Sarai, mulher de Abrão, não lhe tinha dado filho; mas, possuindo uma escrava egípcia, chamada Agar, disse a Abrão: ‘Eis que o Senhor me fez estéril; rogo-te que tomes a minha escrava, para ver se, ao menos por ela, eu posso ter filhos’”. Exatamente! “Abrão, por favor, trace esta escrava já que sou estéril, sim?”. O melhor é o desfecho destes dois versículos. “Abrão aceitou a proposta de Sarai.” (Gênesis 16:1-2). Ah vá! Sério? Pobre homem.

Eis que Abrão agasalhou seu croquete sem dó na escrava Agar, a egípcia, engravidando-a. Podemos acusar Abrão de muitas coisas, mas o velho dá no couro, viu? Consta que ele tinha seus 85 anos durante o ocorrido. Teriam os habitantes de Canaã acesso à Catuaba Selvagem? Cerveja Caracu batida com ovo e amendoim? Mistério.

Já “Agar, vendo que tinha concebido, começou a desprezar a sua senhora.” (Gênesis 16:4). Mudava de canal bem na hora da novela de Sarai, largava louça suja na pia, devolvia forma de gelo vazia no freezer e coisas do gênero. A vida a três ficara insuportável. “Então Sarai”, com o rolo de macarrão na mão, “disse a Abrão: ‘Caia sobre ti o ultraje que me é feito! Dei-te minha escrava, e ela, desde que concebeu, olha-me com desprezo. O Senhor seja juiz entre mim e ti!’” (Gênesis 16:5). Abrão, com uma covardia digna dos homens preferidos de Deus, responde: “Tua escrava está em teu poder, faze dela o que quiseres.". Ele lavou as mãos. A mulher na Bíblia é essencialmente uma boneca inflável que gera herdeiros, e Abrão estava cagando para Agar e o filho na barriga dela. Sarai aproveitou a luz verde e “maltratou-a de tal forma que ela teve de fugir.” (Gênesis 16:6).

A escrava Agar, a egípcia, pôs-se a vagar pelo deserto, com náuseas, pés inchados e desejos repentinos por bolo de chocolate, até se deparar com um anjo do Senhor! Isso, mesmo! Não era um louco usando asas de arame e algodão, nem uma alucinação por estar vagando pelo deserto. Era um anjo mesmo! E “disse-lhe: ‘Agar, escrava de Sarai, donde vens? E para onde vais?’ (desinformado esse anjo, né?) ‘Eu fujo de Sarai, minha senhora’, respondeu ela. ‘Volta para a tua senhora, tornou o anjo do Senhor, e humilha-te diante dela.’ E ajuntou: ‘Multiplicarei tua posteridade de tal forma, e será tão numerosa, que não se poderá contar.’” (Gênesis 16:8-10). Sério? Esse papo de “multiplicar a posteridade” de novo? Isso é o melhor que Deus tem a oferecer? “Você será uma escrava, vai servir de parideira para seu dono e vai ser maltratada pela sua dona. Mas vou multiplicar sua posteridade, ok?”. Uau! Obrigado Senhor, por esta graça! E na bundinha não vai nada?

Pois o anjo do Senhor ainda profetiza: "Estás grávida, e vais dar à luz um filho: dar-te-ás o nome de Ismael, porque o Senhor te ouviu na tua aflição (ouviu mesmo?). Este menino será como um jumento bravo: sua mão se levantará contra todos e a mão de todos contra ele, e levantará sua tenda defronte de todos os seus irmãos." (Gênesis 16:11-12). Opa! Todo mundo sabe que um menino como jumento bravo é encrenca! E se, além de bravo, também for esperto como um jumento, não podemos exigir notas altas no boletim do jovem.

Agar deu ao Senhor, que lhe tinha falado, o nome: Vós sois El-roí, ‘porque, dizia ela, não vi eu aqui mesmo o Deus que me via?’” (Gênesis 16:13). Explico: Agar chamou o anjo (“Senhor que lhe tinha falado”) o nome de El-roí, que significa “Deus que vê”. Deus (ou o anjo, ou sei lá quem) não viu Abrão usar e descartar a escrava Agar, nem viu Sarai a maltratar até ela não agüentar mais, e nem sabia de onde nem para onde ela ia. Mas mesmo assim ganhou o título de “Deus que vê”. Eu o chamaria de “Deus que está precisando de óculos”.

Enfim, Agar finalmente dá à luz ao rebento chamado Ismael. “Abrão tinha a idade de oitenta e seis anos quando Agar lhe deu à luz Ismael.” (Gênesis 16:16). Não falei que o velho ainda tinha bala na agulha?

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Gênesis 13-15

Depois do vexame que Abrão e banda deram no Egito, eles voltaram para Betel. “Abrão”, o narrador faz questão de salientar, “era muito rico em rebanhos, prata e ouro” (Gênesis 13:2), “graças ao bumbum empinadinho de Sarai”, o narrador faz questão de esconder. Mas o que importa é que Abrão e seu sobrinho Lot resolveram dividir essas terras de meu Deus, para que seus respectivos pastores pudessem pastorear à vontade. “Abrão fixou-se na terra de Canaã, e Lot nas cidades da planície, onde levantou suas tendas até Sodoma” (Gênesis 13:12).

Apesar de ainda faltar alguns capítulos para a história tratar de Sodoma e Gomorra, o narrador já nos adianta que “os habitantes de Sodoma eram perversos, e grandes pecadores diante do Senhor” (Gênesis 13:13). A putaria rolava solta. Era Festa do Coqueiro (pode trepar que não tem galho) toda noite. Aguardem os próximos capítulos e voltemos à nossa história.

Assim que Lot deixou seu tio sozinho (coincidência?), o amigo imaginário de Abrão (Deus) lhe aparece para revelar mais abobrinhas. Entre uma bobagem e outra, o Senhor diz que a descendência de Abrão será “tão numerosa como o pó da terra: se alguém puder contar os grãos do pó da terra, então poderá contar a tua posteridade” (Gênesis 13:16). Pó da terra. Não como as estrelas no firmamento, nem como as gotas no oceano ou algo mais poético. Como o pó mesmo. Acho que foi um elogio. Enfim. Abrão “veio fixar-se no vale dos carvalhos de Mambré, que estão em Hebron; e”, tava demorando, “ali edificou um altar ao Senhor” (Gênesis 13:18).

O que acontece depois, em Gênesis 14, é uma salada de reis e nações cujos nomes parecem doenças do couro cabeludo. Mas, como sempre, eu troco em miúdos para você. Os reis de Sodoma, Gomorra, entre outras nações, serviam a um rei chamado Cordo... Codorno... Codorlaomor (ufa!). Depois de 12 anos, o saco deles enchem e eles entram em guerra contra Comolargador (tá certo?) e companhia. Depois de muito quebra-pau, os reis de Sodoma e Gomorra perdem a batalha e, no meio da confusão, Lot, sobrinho de Abrão, é seqüestrado pela gangue de Cornolamastor (quem?). Abrão, juntamente com uma equipe da Swat, vai ao resgate de seu sobrinho, dá uma surra em Courola... (ah, foda-se, desisto!) e ainda recupera os bens saqueados na batalha.

Um dos reis vingados por Abrão, “Melquisedeque, rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, mandou trazer pão e vinho (ai, ai. A última vez que tinha vinho na jogada não acabou bem), e abençoou Abrão, dizendo: ‘Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que criou o céu e terra! Bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos em tuas mãos!’ E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo” (Gênesis 14:20). É, meu caro. Esse papo de ‘dê o dízimo para o padre/pastor/sacerdote do Deus Altíssimo’ vem de longe. Se você acha que Abrão é exemplo a ser seguido, entregue sua mulher para o faraó também. E o desprendimento material de Abrão não acaba por aí. “O rei de Sodoma disse a Abrão: ‘Devolve-me os homens e guarda os bens’. ‘Levanto a minha mão para o Senhor Deus Altíssimo que criou o céu e a terra, respondeu Abrão, de tudo o que é teu, não tomarei sequer um fio nem um cordão de sandália, para que não digas: Enriqueci Abrão” (Gênesis 14:21-23). Abrão não quer saber de rabo preso nem ninguém esfregando favor na cara dele.

O tempo passa, e Abrão tem mais uma visão (leia-se “alucinação”) do Senhor Altissíssimo, em que ele diz "’Nada temas, Abrão! Eu sou o teu protetor; tua recompensa será muito grande’ Abrão respondeu: ‘Senhor Javé, que me dareis vós? Eu irei sem filhos, e o herdeiro de minha casa é Eliezer de Damasco.’" (Gênesis 15:1-2). Ok, vamos por partes. Aparentemente, o nome do Glorioso Senhor Altíssimo Criador Do Céu E Da Terra E De Tudo Que Tem O Sopro De Vida é... Javé. Meio decepcionante, né? Outros deuses tem nomes mais impactantes, como Zeus, Thor, Shiva! Mas Javé... sei lá... rima com “nhé”. Enfim, estou devaneando. Sobre a preocupação de Abrão, explico: Sarai era estéril (sorte dela que era gostosa, senão já teria sido trocada por um camelo), e por isso, o herdeiro de Abrão seria o escravo nascido em sua casa, Eliezer.

Mas o Senhor diz: "Não é ele que será o teu herdeiro, mas aquele que vai sair de tuas entranhas. (...) Levanta os olhos para os céus e conta as estrelas, se és capaz... Pois bem, ajuntou ele, assim será a tua descendência. (...) Eu sou o Senhor que te fiz sair de Ur da Caldéia para dar-te esta terra" (Gênesis 15:4-7). Abrão, que parece estar passando por uma crise de autoconfiança, choraminga: “O Senhor Javé, como poderei saber se a hei de possuir?" (Gênesis 15-8).

Agora, amigo leitor, a história descamba para uma seqüência tão sem sentido que faria um hippie chapado em LSD fazer “heim?”. Vamos dar as mãos.

O Senhor diz a Abrão: "Toma uma novilha de três anos, uma cabra de três anos, um cordeiro de três anos, uma rola e um pombinho." (Gênesis 15:9). Isso, uma rola. Quando a piada já vem pronta, não me resta muito que fazer. Adiante. “Abrão tomou todos esses animais, e dividiu-os pelo meio, colocando suas metades uma defronte da outra; mas não cortou as aves” (Gênesis 15:10). Peraí, Abrão! Deus só te disse para “tomar” esses animais! Onde você entendeu que era para esquartejá-los? Um cara desse só pode ser doido. Enfim. “Vieram as aves de rapina e atiraram-se sobre os cadáveres, mas Abrão as expulsou. E eis que, ao pôr-do-sol, veio um profundo sono a Abrão, ao mesmo tempo que o assaltou um grande pavor, uma espessa escuridão.” (Gênesis 15:11-12).

Depois desse ritual psicodélico, o Senhor Javé reaparece para Abrão com uma profecia: “Sabe que teus descendentes habitarão como peregrinos uma terra que não é sua, e que nessa terra eles serão escravizados e oprimidos durante quatrocentos anos” (Gênesis 15:13), entre outras abobrinhas. E depois, “quando o sol se pôs, formou-se uma densa escuridão, e eis que um braseiro fumegante e uma tocha ardente passaram pelo meio das carnes divididas.” (Gênesis 15:17). Hã?!? Para finalizar, Deus diz: “Eu dou, disse ele, esta terra aos teus descendentes, desde a torrente do Egito até o grande rio Eufrates: a terra dos cineus, dos ceneseus, dos cadmoneus, dos heteus, dos ferezeus, dos amorreus, dos cananeus, dos gergeseus e dos jebuseus." (Gênesis 15: 18-21). O que o senhor gosta mesmo de fazer é dar terrenos para Abrão. E acabou.

Achou confuso, chato, complicado e sem sentido? Eu também. Vou tentar resumir estes três capítulos de forma rápida e rasteira:

- Abrão e seu sobrinho Lot dividiram as terras para seus pastores.
- Houve uma guerra, Lot foi seqüestrado e Abrão foi resgatá-lo.
- Nós, leitores, temos que dar o dízimo para o padre/pastor.
- Abrão fica preocupado que não vai ter descendentes. Deus dizer para ele relaxar e gozar. Mesmo.
- Abrão mata um bando de animais, inclusive uma rola, sem o menor propósito.
- Deus diz que os descendentes de Abrão vão ser escravizados por 400 anos. Fim.

Prometo que nos próximos capítulos a história fica mais divertida. Fiquem com Deus.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Gênesis 12

Nos próximos capítulos, vamos acompanhar as aventuras de um personagem muito importante chamado Abrão (isso, Abrão. Eu também achei que estava faltando um “a”, mas vocês não perdem por esperar). O número dele foi sorteado na loteria divina e o Senhor resolveu que, dali para frente, ele iria ajudar a ele e a quem o seguisse. Quem torcesse por outro time, Deus iria foder. Veja: “O Senhor disse a Abrão: ‘Deixa tua terra, tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que eu te mostrar. Farei de ti uma grande nação; eu te abençoarei e exaltarei o teu nome, e tu serás uma fonte de bênçãos. Abençoarei aqueles que te abençoarem, e amaldiçoarei aqueles que te amaldiçoarem; todas as famílias da terra serão benditas em ti’” (Gênesis 12:1-3).

Pois bem. Amanheceu, Abrão pegou a viola, botou na sacola, “tomou Sarai, sua mulher, e Lot, filho de seu irmão, assim como todos os bens que possuíam e os escravos que tinham adquirido em Harã” (Gênesis 12:5), e foi viajar. Ele provavelmente “adquiriu” esses escravos numa bela promoção de queima-de-estoque e não podia deixá-los para trás. Chegando à terra de Canaã, “o Senhor apareceu a Abrão e disse-lhe: ‘Darei esta terra à tua posteridade.’ Abrão edificou um altar ao Senhor, que lhe tinha aparecido”(Gênesis 12:7). (Nota do autor: Caso o Senhor “lhe apareça”, verifique se a maionese que você comeu no lanche estava na validade antes de edificar um altar. Especialmente se você estava peregrinando pelo deserto, onde maioneses estragam bem rápido).

Abrão seguiu viagem até depois de Betel, onde edificou mais um altar para puxar o saquinho do Senhor. O que parece que não adiantou muita coisa, pois, por causa da fome e da miséria que se abateu no local, Abrão teve que se mudar para o Egito, onde a coisa não estava tão feia. Mas Abrão, esperto que é (ou nem tanto, como veremos), se tocou que sua esposa Sarai era um pitéuzinho de parar o trânsito e disse: “Escuta, sei que és uma mulher formosa. Quando os egípcios te virem, dirão: 'É sua mulher', e me matarão, conservando-te a ti em vida. Dize, pois, que és minha irmã, para que eu seja poupado por causa de ti, e me conservem a vida em atenção a ti." (Gênesis 12:13). Ah, mas foi tiro e queda! Os egípcios ficaram de queixo no chão com o decote generoso e o rebolar malemolente de Sarai. “Os grandes da corte, vendo-a, elogiaram-na diante do faraó, e a mulher foi introduzida no seu palácio (veja bem, quem introduziu mesmo foi o faraó). Por causa dela, Abrão foi bem tratado pelo faraó, e recebeu ovelhas, bois, jumentos, servos e servas, jumentas e camelos” (Gênesis 12:16). (Por que exatamente “servos e servas” aparece entre “jumentos” e “jumentas” eu não sei. Haveria alguma mensagem subliminar aqui?).

Você leu certo, fiel leitor. Enquanto Sarai brincava de pega-vareta e rolentrando com o faraó, Abrão reabasteceu sua fazendinha ambulante com presentes. Como se não estivesse absurdo o suficiente, Deus apareceu e “feriu com grandes pragas o faraó e a sua casa, por causa de Sarai, mulher de Abrão” (Gênesis 12:17)! Como assim?!? Abrão foi covarde e mentiroso, entregando a esposa como se entrega uma bicicleta velha, para salvar a própria pele. O faraó, por não ter poderes psíquicos, não adivinhou que Sarai era a esposa de Abrão, e passou a vara (ou seria o cetro?) na mulher. E quem Deus, em sua glória, resolveu foder com grandes pragas? O faraó!

Depois de muito bater o dedinho do pé com toda força no pé da mesa; depois de muitas vezes ter sua torrada caindo com a manteiga para baixo; depois de muitas vezes sair do banho e perceber que a toalha já estava molhada, a ficha do faraó caiu. Ele estava sofrendo as pragas do Senhor porque comeu a mulher de Abrão. Puto, e com razão, mandou chamar Abrão e disse: "’Que me levaste a fazer? Porque não me disseste que era tua mulher? Por que disseste que ela era tua irmã, levando-me e a tomá-la por esposa? Mas agora eis tua mulher: toma-a e vai-te (‘para a puta que te pariu’, eu teria adicionado)!’ Então, o faraó deu ordens aos seus para reconduzir Abrão e sua mulher com tudo o que lhe pertencia" (Gênesis 12:19-20). Aparentemente o faraó nem pediu os presentes de volta, tamanha era a pressa para não ter que ver a cara de Abrão. “E os presentes?” teria perguntado Abrão. “Enfia no rabo!” bradaria o faraó.

E essa foi a primeira aventura de nosso amigo Abrão. Agora, será que ele realmente precisaria ter entregado a mulher para o faraó? Não quero parecer repetitivo, mas não seria mais fácil se:

a) Abrão tivesse dito para o faraó: “Sim, ela é gostosa, é minha mulher, mas eu sou um protegido de Deus. Se você me matar e/ou tomá-la como esposa, pragas cairão sobre você!”?

b) Abrão tivesse dito para o faraó: “Sim, ela é gostosa, é minha mulher, mas está com doenças sexualmente transmissíveis que derrubariam um camelo. Coloca a piroca lá dentro e você vai ver o que é praga divina.”?

c) Sarai tivesse disfarçado sua formosura com um travesseiro na barriga, uma verruga falsa na cara ou algo do gênero?

Talvez Abrão não tenha escolhido nenhuma das alternativas porque ele, na verdade, achou ótimo ganhar ovelhas, bois, jumentos, servos e servas, jumentas e camelos. Enfim. Acho que é isso.

P.S.: Não quero julgar Abrão por ter seus escravinhos. Essa história foi escrita há mais de 3000 anos atrás (aqui a expressão “mais antigo do que o rascunho da bíblia” se encaixa perfeitamente) e, se qualquer um de nós vivesse naquela época, iria achar a escravidão normal. Eu mesmo teria um escravo digitando este blog para mim. O que me revira o estômago, é que muitas pessoas acham que a Bíblia é uma fonte de valores para os dias de hoje. Mas, acho que já falei disso... obrigado e desculpe.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Gênesis 10-11


Café. Forte, bem forte. É o que você vai precisar para suportar alguns dos capítulos que vem por aí. São páginas e páginas que poderiam ser resumidas em um desenho de uma árvore genealógica. Mas minha missão nesse mundo-de-meu-deus é trocar a Bíblia em miúdos para você. E avacalhar um pouquinho, que não mata ninguém (ou mata?).

Começamos com uma listagem dos descendentes do nosso velho, muito velho, conhecido Noé. Apesar de bem chato, é uma boa fonte de nomes, caso você não saiba como batizar seu filho, cachorro ou gato. Veja: Gomer, Magog, Madai, Javã, Tubal, Mosoc, Tiras, Ascenez, Rifat Togorma, Elisa, Társis, Cetim e Dodanim. Eu, particularmente, gostei de Magog. E, cá pra nós, Cetim é um luxo, né? Quer mais? Cus (isso, Cus), Mesraim, Fut, Saba, Hevila, Sabata, Regma, Sabataca, Saba e Dadã. Enfim, o que não falta é nome de monstro de seriado japonês.

Mas o que importa disso tudo é que “tais são as famílias dos filhos de Noé, segundo suas gerações e suas nações. É dele que descendem as nações que se espalharam sobre a terra depois do dilúvio” (Gênesis 10:32). Um detalhe que é bom guardar (segundo recomendações de um amigo estudioso das Escrituras / vide comentários de Gênesis 9), é que a nação descendente de Canaã (o moleque que bobeou e virou escravo), os Cananeus, habitaram a região de Sodoma e Gomorra. Muita porno-chanchada ainda vai rolar nessas terras.

Em Gênesis 11 a história engata de novo, mas por pouco tempo. “Toda a terra tinha uma só língua, e servia-se das mesmas palavras. Alguns homens, partindo para o oriente, encontraram na terra de Senaar uma planície onde se estabeleceram. E disseram uns aos outros: ‘Vamos, façamos tijolos e cozamo-los no fogo.’ Serviram-se de tijolos em vez de pedras, e de betume em lugar de argamassa” (Gênesis 11:1-3). Betume, amigo leitor, é uma meleca derivada do petróleo que gruda mais que miojo na panela. Depois dessa revolução na engenharia civil, o próximo passo era óbvio e inevitável. “Depois disseram: ‘Vamos, façamos para nós uma cidade e uma torre cujo cimo atinja os céus. Tornemos assim célebre o nosso nome, para que não sejamos dispersos pela face de toda a terra’” (Gênesis 11:4). É a famigerada Torre de Babel!

Mas o Senhor não gostou nada dessa história de sair construindo grandes torres por aí! Imagina se eles realmente chegam aos céus? Deuses também merecem um pouco de privacidade, oras. Mas o Todo-Poderoso, astuto e sagaz que é, percebeu logo qual era o segredo do sucesso dessa turma e disse: "Eis que são um só povo, disse ele, e falam uma só língua: se começam assim, nada futuramente os impedirá de executarem todos os seus empreendimentos. Vamos (“vamos”? “vamos” quem? com quem diabos ele está falando?): desçamos para lhes confundir a linguagem, de sorte que já não se compreendam um ao outro" (Gênesis 11:6-7). Pois é, Deus resolveu jogar água no chopp da turma. O Senhor só gosta de iniciativa se for para queimar ovelhas em homenagem a ele.

Vamos lá. Deus, para impedir que esses engenheiros construíssem uma torre muito alta, fez cada um falar uma língua diferente. Desculpe, mas essa estratégia que o Senhor inventou para embargar a obra da Torre de Babel foi péssima. Ele teve que alterar a região do córtex cerebral responsável pela linguagem de cada um deles! Será que não seria mais fácil:

a) Simplesmente esconder o tal do betume?
b) Quando a torre estivesse quase pronta, causar um terremoto para derrubá-la e fazer “oops!”?
c) Ameaçar todos dizendo “parem já com essa obra senão eu mando um dilúvio para afogar todo mundo”? Tenho certeza que todos saberiam que o Senhor não está blefando.
d) De fato mandar um dilúvio para afogar todo mundo? Com o histórico de assassinatos que nosso bom Deus tem, ninguém ia notar.

Mas, bem ou mal, o truque do Senhor funcionou. “Foi dali que o Senhor os dispersou daquele lugar pela face de toda a terra, e cessaram a construção da cidade” (Gênesis 11:8). E é por isso, segundo esse livro de fábulas, que existem tantas línguas no mundo. Porque Deus não quis que o homem construísse torres altas. Mas de certa forma, o tiro saiu pela culatra. Muitos anos depois, várias pessoas falando línguas diferentes construíram a Estação Espacial Internacional e a colocaram em orbita. É alto o suficiente para você?

Infelizmente, depois dessa fantástica (?) história, o capítulo descamba para descrever genealogias de novo. Não dá, né? Tchau, arrivederci, au revoir!

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Gênesis 9

Como já podemos perceber, a Bíblia Sagrada é um livro difícil de ler. Confuso, contraditório, com mais engasgos na trama que um filme do Tarantino. Desde a gênese (há!) deste blog, eu venho sumarizando e digerindo o texto para você, amigo leitor, que tem mais o que fazer da vida. Mas neste post, e somente neste, transcreverei o capítulo de cabo a rabo, versículo por versículo, para que você tenha a idéia do martírio que é ler esse livro. Vamos dar as mãos e enfrentar juntos esta provação.

1 Deus abençoou Noé e seus filhos: "Sede fecundos, disse-lhes ele, multiplicai-vos e enchei a terra.
Tome-lhe incesto e endogamia de novo. Mas esse assunto já apanhou demais. Basta.

2 Vós sereis objeto de temor e de espanto para todo animal da terra, toda ave do céu, tudo o que se arrasta sobre o solo e todos os peixes do mar: eles vos são entregues em mão.
3 Tudo o que se move e vive vos servirá de alimento; eu vos dou tudo isto, como vos dei a erva verde.

Mais um lindo ensinamento deste livro. Todos os animais da terra são um mero alimento para o homem se deliciar. Tenho certeza de que tigres, tubarões-brancos e cia. pensam diferente. E, veja, Deus deu a erva verde para o homem. O que mais ele quer?

4 Somente não comereis carne com a sua alma, com seu sangue.
Opa, opa! Estava demorando para aparecer uma restrição. Canibalismo não pode!

5 Eu pedirei conta de vosso sangue, por causa de vossas almas, a todo animal; e ao homem {que matar} o seu irmão, pedirei conta da alma do homem.
6 Todo aquele que derramar o sangue humano terá seu próprio sangue derramado pelo
homem, porque Deus fez o homem à sua imagem.

O Senhor não tem dúvidas sobre a pena de morte. Matou, morreu.

7 Sede, pois, fecundos e multiplicai-vos, e espalhai-vos sobre a terra abundantemente."
Que sensação de déjà vu, né?

8 Disse também Deus a Noé e as seus filhos:
9 "Vou fazer uma aliança convosco e com vossa posteridade,
10 assim como com todos os seres vivos que estão convosco: as aves, os animais domésticos, todos os animais selvagens que estão convosco, desde todos aqueles que saíram da arca até todo animal da terra.
11 Faço esta aliança convosco: nenhuma criatura será destruída pelas águas do dilúvio, e não haverá mais dilúvio para devastar a terra."

Ueba! Deus não vai mais afogar tudo e todos! Teria ele ficado bonzinho?

12 Deus disse: "Eis o sinal da aliança que eu faço convosco e com todos os seres vivos que vos cercam, por todas as gerações futuras:
13 Ponho o meu arco nas nuvens, para que ele seja o sinal da aliança entre mim e a terra.

Ah, que lindo! Um arco-íris é algo tão fofinho que dá quase para esquecer da carnificina desenfreada que Deus fez algumas páginas atrás.

14 Quando eu tiver coberto o céu de nuvens por cima da terra, o meu arco aparecerá nas nuvens,
15 e me lembrarei da aliança que fiz convosco e com todo ser vivo de toda espécie, e as águas não causarão mais dilúvio que extermine toda criatura.

Ok, agora eu tenho certeza que eu já ouvi isso.

16 Quando eu vir o arco nas nuvens, eu me lembrarei da aliança eterna estabelecida entre Deus e todos os seres vivos de toda espécie que estão sobre a terra."
Sério, minha gente, alguém chama o suporte técnico, porque deu pau.

17 Dirigindo-se a Noé, Deus acrescentou: "Este é o sinal da aliança que faço entre mim e todas as criaturas que estão na terra."
“Acrescentou”? Sério? De onde eu venho, isso se chama “encher lingüiça”.

18 Os filhos de Noé que saíram da arca eram Sem, Cam e Jafet. Cam era o pai de Canaã.
19 Estes eram os três filhos de Noé. É por eles que foi povoada toda a terra.

Sim, eu também estou pensando em incesto, mas eu prometi que não ia comentar mais nada sobre isso. Desculpe.

Agora esse final numa paulada só, para ver se você cai da cadeira.
Noé, que era agricultor, plantou uma vinha. Tendo bebido vinho, embriagou-se, e apareceu nu no meio de sua tenda. Cam, o pai de Canaã, vendo a nudez de seu pai, saiu e foi contá-lo aos seus irmãos. Mas, Sem e Jafet, tomando uma capa, puseram-na sobre os seus ombros e foram cobrir a nudez de seu pai, andando de costas; e não viram a nudez de seu pai, pois que tinham os seus rostos voltados.

Quando Noé despertou de sua embriaguez, soube o que lhe tinha feito o seu filho mais novo. "Maldito seja Canaã, disse ele; que ele seja o último dos escravos de seus irmãos!". E acrescentou : "Bendito seja o Senhor Deus de Sem, e Canaã seja seu escravo! Que Deus dilate a Jafet; e este habite nas tendas de Sem, e Canaã seja seu escravo!". Noé viveu ainda depois do dilúvio trezentos e cinqüenta anos. A duração total da vida de Noé foi de novecentos e cinqüenta anos; e morreu.
(Gênesis 9:20-29)

Ok, pó-pará! Deixe-me ver se eu entendi direito. Sugiro que você tenha um bloco de notas aí do lado para fazer um esquema gráfico. Olha só. Noé toma todas e tira a roupa dançando cara-caramba cara-caraô. Cam presencia o vexame e resolve compartilhar com seus irmãos. Os irmãos de Cam vão salvar o velho do mico que ele está pagando. Sabiamente, eles não querem ver a piroca de um velho de 600 anos de idade balançando e fazem o resgate de ré. Quando o velho Noé acorda do porre, ele resolve transformar o filho de Cam, seu neto, em escravo dos próprios tios. Alguém pode me explicar a lógica disso? Qual é a moral dessa história? Sério, não é uma pergunta retórica. Alguém me explica que lição devemos tirar dessa parábola.

Imagine Canaã, filho de Cam, recebendo a notícia:

- Filhão...
- Oi pai!
- Você gosta do tio Sem e o tio Jafet?
- Sim, eles são supimpa!
- Que bom, porque você acaba de virar escravo deles.
- ...?!? C-c-como?!? P-p-por que?!? Peraí! Eu juro que aquela maconha na minha mochila é de um amigo! Eu só estava guardando pra ele!
- Não é por isso não, meu filho. É porque eu, ontem à noite, tive o desgosto de ver o seu avô dançando pelado. Por isso ele resolveu arruinar sua vida te transformando num escravo.
- Putaqueopariu! Como assim?
- Assim.

E lembrem-se que, recapitulando Gênesis 6:9, Noé “era um homem justo e perfeito”. Certo. Justo como colarinho de palhaço.

Aparentemente, as pessoas que viviam em tribos do Oriente Médio na idade do bronze (e que escreveram este best-seller) tinham um problema sério com ficar pelado, mas nenhum problema com incesto e escravidão intra-familiar. Vamos ver que surpresas nos aguardam nos capítulos vindouros. Amém.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Interlúdio: Quantos elefantes cabem num Fusca?

Cinco, é claro. Dois na frente e três atrás. E quantos animais cabem num barco que nunca existiu? Bem, segundo a Bíblia Sagrada, Noé fez caber um casal de cada espécie de animal impuro (?) e sete casais de cada espécie de ave e animal puro (??) na Arca. Ok, vamos quebrar o galho de Noé e fazer vista grossa para uma enchente (turum-tish!) de evidências. Como não sabemos que animais são puros ou impuros, vamos supor que ele pegou sete casais somente de cada espécie de ave. Dos outros animais, um casal para cada espécie. Depois vamos empurrar as milhões de espécies de insetos e aracnídeos para debaixo do tapete e fingir que elas não ocupam espaço. E, de quebra, vamos supor que todas as espécies de animais da Terra já estão descritas (o que é um absurdo, mas tá). Não quero te inundar (turum-tish-tish!) com números, mas, segundo a lista de espécies identificadas da IUCN, são 5.490 espécies de mamíferos, 9.998 de aves, 9.084 de répteis e 6.433 de anfíbios. Só contando esses quatro grupos, Noé teve que fazer 181.968 animais caberem na Arca.

Agora pense em estocar comida para um ano para esses animais. E água? Sim, choveu por quarenta dias, mas e o resto ano? Eles beberam a água salgada da enchente? Pense também em limpar e remover as toneladas de fezes. E na ventilação do ambiente, com a uma janela que Deus pôs no projeto (Gênesis 6:16). E em parasitas e doenças num ambiente confinado. Agora pense que o quadro de funcionários da Arca de Noé é de sete pessoas para 180.000 animais. O Zoológico de São Paulo tem cerca de 370 funcionários para 3.200 animais. Enfim, dá para escrever um livro sobre o absurdo que essa história é.

Aliás, existe um livro sobre a logística da Arca de Noé, mas não do jeito que você está pensando. O auto-proclamado “cientista” (aspas, aspas! muitas aspas!) e criacionista John Woodmorappe, que já tentou de todo jeito provar que a datação por carbono 14 está errada (!), escreveu um livro chamado ‘Noah’s Ark: A feasibility study’. Nele, o autor “prova” (olha as aspas aí de novo!) que a Arca de Noé é logisticamente possível. Só para se ter uma idéia da baixaria da argumentação deste descendente de Adão, veja o que ele afirma sobre a alimentação dos dinossauros que estavam na arca. Isso, dinossauros. “Dinossauros devem ter comido basicamente as mesmas comidas que os outros animais. Os grandes saurópodos (ele está falando de brontossauros aqui, meu amigo) devem ter comido feno e outros vegetais desidratados. Dinossauros carnívoros – isso se algum deles era carnívoro antes do Dilúvio (meu café da manhã acabou de voltar até a garganta. obrigado.) - devem ter comido carne seca, carne seca reconstituída ou animais abatidos. Tartarugas gigantes teriam sido alimentos ideais nessa situação. Elas são grandes e precisam de pouca comida”. Acho que o argumento mais forte de Woodmorappe é “se eu consigo enfiar tanta baboseira dentro de um livro, é claro que Noé conseguiu enfiar todos os animais na Arca”. Não creio que nenhum cientista sério tenha escrito um livro sobre a impossibilidade da Arca de Noé. Provavelmente pelo mesmo motivo que ninguém que zela pelo nome escreveria um livro sobre porque o Coelhinho da Páscoa não existe.

Qualquer um que acha que a Arca de Noé foi verdade, eu sugiro que mantenha um elefante dentro de sua cozinha por um ano, e use sua sala de jantar para estocar comida. Pensando bem, não faça isso. O elefante vai morrer. E ele não tem culpa que esse primata idiota chamado humano acredita nas próprias mentiras que inventa.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Gênesis 7 - 8


Os dez primeiros versículos de Gênesis 7 ficam no mesmo nheco-nheco do fim de Gênesis 6: “Nóe, entra no seu barquinho que o pau vai quebrar” (Gênesis 7:1-10). Exceto pelas seguintes novíssimas informações dadas por Deus: “De todos os animais puros tomarás sete casais, machos e fêmeas, e de todos animais impuros tomarás um casal, macho e fêmea; das aves do céu igualmente sete casais, machos e fêmeas, para que se conserve viva a raça sobre a face de toda a terra” (Gênesis 7:2-3). O Senhor, talvez por aconselhamento de algum anjo bom de genética de populações, resolveu que era melhor sete em vez de um casal de cada animal puro. Essa lista de “animais puros” só deve existir mesmo dentro da cabecinha perturbada de Deus. Noé só topou porque percebeu que puxar o saco sem fazer perguntas é o que dá resultado. E perceba ênfase que é dada ao fato de que casal é um macho e uma fêmea! Não me venha com viadagem! Além disso, o Senhor também liberou uma programação do seu Festival da Morte por Afogamento: “dentro de sete dias farei chover sobre a terra durante quarenta dias e quarenta noites” (Gênesis 7:4).

Então, depois de muito suspense, Deus abre as comportas e dá início ao seu massacre. “No ano seiscentos da vida de Noé (eu podia jurar que o Todo-Poderoso tinha limitado o tempo de permanência para 120 anos, mas tá), no segundo mês, no décimo sétimo dia do mês, romperam-se naquele dia todas as fontes do grande abismo, e abriram-se as barreiras dos céus” (Gênesis 7:11). Com a chuva engrossando, entrou Noé, seus seis familiares, um número impraticável de animais, “e o Senhor fechou a porta atrás dele” (Gênesis 7:16), porque, no projeto da arca, faltou uma maçaneta do lado de dentro da porta.

E choveu. Choveu pracaralho. Por quarenta dias, para ser preciso. “As águas inundaram tudo com violência, e cobriram toda a terra, e a arca flutuava na superfície das águas” (Gênesis 7:18), e “todas as criaturas que se moviam na terra foram exterminadas” (Gênesis 7:21). Pronto! Deus resolveu o problema da violência matando todo mundo! É ou não é um gênio? E, como o problema do lixo entupindo os bueiros já é bem antigo, “as águas cobriram a terra pelo espaço de cento e cinqüenta dias” (Gênesis 7:24).

Ora, Deus lembrou-se de Noé, e de todos os animais selvagens e de todos os animais domésticos que estavam com ele na arca”. É isso mesmo, amigo leitor. Deus lembrou-se de Noé! Perceba: ele tinha esquecido, mas lembrou! É ou não é um cara atencioso? Mesmo com a cabeça ocupada com coisas como saborear a carnificina que ele acabou de fazer, o Senhor ainda consegue lembrar-se de Noé! E “fez soprar um vento sobre a terra, e as águas baixaram” (Gênesis 8:1).

Pois bem. As águas foram baixando, a arca encalhou nas montanhas do Ararat. Então Noé usa uma pomba para saber se enchente tinha passado mesmo. Como? Simples, um dia a pomba “voltou, trazendo no bico uma folha verde de oliveira. Assim Noé compreendeu que as águas tinham baixado sobre a terra” (Gênesis 8:11). Todo mundo sabe que, quando uma pomba pega uma folha verde de oliveira, é porque está tudo seco. É tiro e queda. E, além disso, as plantas não pareceram ter problemas em ficar tanto tempo debaixo d’água, não é mesmo? “Então falou Deus a Noé: ‘Sai da arca, com tua mulher, teus filhos e as mulheres de teus filhos. Faze sair igualmente contigo todos os animais que estão contigo de todas as espécies: aves, quadrúpedes, répteis diversos que se arrastam sobre a terra; faze-os sair contigo para que se espalhem sobre a terra e para que cresçam e”, com todas as combinações possíveis de incesto, “se multipliquem sobre a terra’" (Gênesis 8:16-17).

O pai de todos os puxa-sacos, Noé, já sabia que Deus gosta mesmo é de morte e “tomou de todos os animais puros e de todas as aves puras, e ofereceu-os em holocausto (holocausto é churrasco, ok?) ao Senhor sobre o altar” (Gênesis 8:20). Ou seja, alguns animais foram sorteados para, depois de passarem mais de um ano em condições piores que ônibus de bóia-fria, queimar num altar! Obrigado, Senhor!

O Senhor respirou um agradável odor, e disse em seu coração: ‘Doravante, não mais amaldiçoarei a terra por causa do homem porque os pensamentos do seu coração são maus desde a sua juventude, e não ferirei mais todos os seres vivos, como o fiz. Enquanto durar a terra, não mais cessarão a sementeira e a colheita, o frio e o calor, o verão e o inverno, o dia e a noite’” (Gênesis 8:21-22). Deus não precisa enviar um raio sobre minha cabeça por escrever esse blog. Ele vai me matar de tanto rir. Vou trocar em miúdos. Deus matou todos os seres vivos porque o homem era mau. Sob o efeito da fumaça tóxica do churrasco de Noé, o Senhor se toca que o homem é mau mesmo e não tem jeito. E justamente por isso, nunca mais vai fazer uma carnificina dessas. Sério, alguém precisa avisar a esse cara que ele não dá uma bola dentro! Seus decretos não fazem o menor sentido! Ele precisa de um marketeiro, um conselheiro, um psiquiatra, sei lá!

E assim termina a história do dilúvio. Dela podemos tirar valiosas lições, por exemplo... ahm... deixa pra lá. Oremos.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Gênesis 6

Irmãos, celebrai! Neste capítulo as coisas começam a esquentar novamente. Sente só: “Quando os homens começaram a multiplicar-se sobre a terra, e lhes nasceram filhas, os filhos de Deus viram que as filhas dos homens eram belas, e escolheram esposas entre elas” (Gênesis 6:1-2). Ié, bêibi! Nada como um pouquinho de paquera e azaração para puxar essa história do buraco! Deus, em conseqüência disso, solta mais um de seus decretos: "Meu espírito não permanecerá para sempre no homem, porque todo ele é carne, e a duração de sua vida será de cento e vinte anos" (Gênesis 6:3). É isso mesmo. Chega dessa putaria de viver até os 900 anos! Não há plano de saúde que agüente! E como o homem é todo carne (e ossos, e pelos, e tecido conjuntivo e o escambau), só irá viver até os tenros 120 aninhos de idade. Fez sentido? Nem para mim. Deus só pode estar chapado quando inventa essas regras.

E o non-sense continua. “Naquele tempo viviam gigantes na terra, como também daí por diante, quando os filhos de Deus se uniam às filhas dos homens e elas geravam filhos. Estes são os heróis, tão afamados nos tempos antigos” (Gênesis 6:4). Sim, o autor interrompe o fluxo da história (que já vai meio engasgado) para escrever um versículo que diz “Ah! Havia também heróis gigantes, ok?”. Hmmm... ok, então.

De volta à nossa história, “O Senhor viu que a maldade dos homens era grande na terra, e que todos os pensamentos de seu coração estavam continuamente voltados para o mal. O Senhor arrependeu-se de ter criado o homem na terra, e teve o coração ferido de íntima dor” (Gênesis 6:5-6). Deus percebeu que o ser humano era ruim como carne de pescoço e se arrependeu de ter criado seus bichinhos de estimação. E sentiu dor em seu coração (sim, ele tem um!). Mimimimi. Qual o jeito mais óbvio de se aplacar uma tristeza no coração? Ir para o cinema, comprar pipoca e assistir a uma comédia romântica? Escutar um bom sertanejo agarrado com seu ursinho de pelúcia favorito? Não, meu amigo. Nada como um bom assassinato em massa para trazer um sorrisinho de volta ao rosto de Deus!

"Exterminarei da superfície da terra o homem que criei, e com ele os animais, os répteis e as aves dos céus, porque eu me arrependo de os haver criado" (Gênesis 6:7). Não, você não leu errado. Para resolver o problema da maldade dos homens, o Senhor resolve massacrá-los. Ele não está com saco para separar os corruptos dos honestos, crianças e bebês inocentes. “Mata tudo! E quer saber? Passa o rodo nos animais também, para aproveitar o embalo da carnificina!”.

Mas havia um camarada chamado Noé que caiu na graça do chefe. O Senhor, em vez de dar um bilhete premiado da mega-sena, deu uma barbada muito melhor para Noé: o projeto para construir um barco que, de alguma forma, iria salvá-lo do banho de sangue desenfreado que o Senhor iria causar (todo mundo já sabe que vem o dilúvio por aí, mas, em prol da história, vamos fingir que não sabemos ainda, ok?). E em apenas três versículos (Gênesis 6:14-16), Deus descarrega seus conhecimentos de engenheiro naval num manual passo-a-passo para construir uma arca de 157 metros de comprimento por 26 de largura. Tá, é grande mas não é nenhum Titanic (que tinha 269m de comprimento, por exemplo).

E então Deus revela seu plano diabólico (sim, eu sei) para ceifar a vida de quase tudo que ele mesmo criou. “Eis que vou fazer cair o dilúvio sobre a terra, uma inundação que exterminará todo ser que tenha sopro de vida debaixo do céu. Tudo que está sobre a terra morrerá. Mas farei aliança contigo: entrarás na arca com teus filhos, tua mulher e as mulheres de teus filhos” (Gênesis 6:17-18). Uau! Quanta bondade num só coração! A família de Noé também será poupada da horrenda morte por afogamento que o resto da humanidade irá sofrer! Deus é pai! E continua. “De tudo o que vive, de cada espécie de animais, farás entrar na arca dois, macho e fêmea, para que vivam contigo. De cada espécie de aves, e de cada espécie de quadrúpedes, e de cada espécie de animais que se arrastam sobre a terra, entrará um casal contigo, para que lhes possas conservar a vida” (Gênesis 6:19-20). E como se a arca já não estivesse cheia o suficiente, “tomarás também contigo de todas as coisas para comer, e armazená-las-ás para que te sirvam de alimento, a ti e aos animais" (Gênesis 6:21).

Certamente Deus não tem e menor noção de espaço. Sabe aquela piada de “como se coloca cinco elefantes num fusca”? Pois é, conte ela para o Senhor e ele vai ficar com cara de interrogação: “Ué... qual é a graça? Não entendi...”. Deus deve ter desligado antes que Noé pudesse protestar: “Mas, Senhor! Como eu vou fazer para enfiar esse monte de p...” [tu-tu-tu-tu-...] Sinal de ocupado. “Noé”, por falta de opção, “obedeceu, e fez tudo o que o Senhor lhe tinha ordenado” (Gênesis 6:22). E assim acaba o capítulo, com clima de “não perca o próximo episódio”.

Deus resolveu exterminar tudo que respira por causa da maldade do homem. Mas cá entre nós, se ele criou o homem, também não criou essa maldade inerente? Que fizesse o homem bonzinho e solidário, oras. Mas já posso imaginar um cristão entrando pela janela de voadora e gritando “Rafael, sua besta! Deus também deu o livre arbítrio para o homem!”. Bem, livre pero no mucho, né? “Faça o que quiser, mas se você não fizer exatamente o que eu quero, vou te exterminar com um dilúvio, ok?”. Mas que bela porcaria de livre arbítrio. Quero meu dinheiro de volta.

P.S.: Eu sei que cristãos não entram de voadora janela adentro. Não sempre, pelo menos. Foi só um recurso dramático.

P.P.S.: Os insignificantes detalhes logísticos de se enfiar todos os animais num barco serão tema de um interlúdio. Guardem seus comentários sobre a Arca para o post em questão. Obrigado!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Gênesis 5

A depressão criativa do autor/autores da Bíblia continua forte neste capítulo. E como vocês sabem, quando a Bíblia sofre, este Blog sofre. Por isso peço desculpas pelo post curto, vagabundo e sem-graça. Mas lá vai.

Este é o livro da história da família de Adão. Quando Deus criou o homem, ele o fez à imagem de Deus” (Gênesis 5:1). Ok, vamos de leve. Para começar, chamar um capítulo de “livro” é forçar um pouco a barra, heim? Depois, “a família de Adão”, se eu entendi bem, somos todos nós. Enfim. Deus criou o homem, humildemente, à imagem dele mesmo. E, para sacanear, criou o chimpanzé um pouquinho diferente. E o bonobo mais um pouquinho. E o gorila. E assim por diante até o ornitorrinco, quando ele estava certamente entediado.

Criou-os homem e mulher, e os abençoou, e deu-lhes o nome de homem no dia em que os criou” (Gênesis 5:2). Abençoou? Eu tinha certeza que ele só tinha almadiçoado até agora. E também não entendi muito bem essa lógica: “Olá homem, você se chama homem. Olá mulher, você se chama homem”. Depois disso o capítulo descamba para trinta versículos contando a descendência de Adão e quanto tempo cada um viveu. Seria quase totalmente entediante se a expectativa de vida média dessa gente não girasse em torno dos 800 anos. O recorde ficou com Matusalém, que morreu com 969 anos. Se algum filho ou neto estava esperando a herança do velho para botar o burro na sombra, se deu mal. Por que hoje em dia dificilmente passamos dos 80? McDonald’s, Coca-Cola e agrotóxicos, talvez.

Curiosamente, ou nem tanto, a descendência de Adão não cita nenhuma mulher. Adão gerou Set, que gerou Enos, que gerou Cainan e o cacete. As mulheres tiveram só o trabalho de carregar os bonitões por nove meses, ter cólicas, náuseas, inchaços e tudo mais. Além de parir, que só posso imaginar como é (creio que seja tentar passar uma bola de sinuca por uma de minhas narinas). E dar de mamar, e limpar a... ah, você pegou idéia. Realmente elas não merecem ser citadas.

É isso. Obrigado e desculpe.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Gênesis 4

Segura essa: “Adão conheceu Eva, sua mulher, e ela concebeu e deu à luz Caim, e disse: ‘Possuí um homem com a ajuda do Senhor’” (Gênesis 4:1). Ka-pow! Gênesis 4 já começa com o pé-na-porta e quer te derrubar da cadeira no primeiro versículo, caro leitor! Por partes iremos.

Deus proíba que eu seja o responsável por acabar com sua inocência, mas “conhecer” aqui no livrão significa “transar”, “trepar”, “passar a vara”, “dançar o mambo selvagem” e morro abaixo. Então você, pai zeloso, que pensa que está tudo bem quando sua filha adolescente diz que “conheceu um monte de gente legal na festinha de ontem à noite”, pense novamente! Enfim, vamos em frente. Eva disse ‘possuí um homem com a ajuda do Senhor’. Protesto, excelência! Quando e como o Senhor ajudou? Se tivesse sido na concepção, seria um ménage. Acho que não. No parto, ele não só não ajudou como atrapalhou, na hora em que ele lançou aquela maldição de aumentar as dores do parto, lembra? Só pode ter sido no pré-natal, fazendo exames periódicos de ultra-som e dando dicas de yoga para grávidas. Que seja.

Adão e Eva viram “que era bom”, se me permitem pegar uma frase emprestada, se conheceram de novo e tiveram outro rebento, Abel. “Abel tornou-se pastor e Caim lavrador. Passado algum tempo, ofereceu Caim frutos da terra em oblação ao Senhor” (Gênesis 4:2-3). “Oblação” é oferenda, caso você já esteja perguntando ao Google. Não se sinta mal, eu também perguntei. “Abel, de seu lado, ofereceu dos primogênitos do seu rebanho e das gorduras dele; e o Senhor olhou com agrado para Abel e para sua oblação, mas não olhou para Caim, nem para os seus dons” (Gênesis 4: 4-5). Eu explico: Abel achou que queimar ovelhas era uma boa forma de puxar o saco de Deus e, veja só, o Senhor gostou. Quem resiste ao cheiro de um bom churrasco? Para os frutinhos de Caim, Deus fez “nhé... caguei”.

Caim não ficou nada feliz com a clara preferência de Deus por Abel. O Senhor, agindo como alguém que se importa, perguntou “por que estás irado? E por que está abatido o teu semblante?” (Gênesis 4:6). “Por que a cara de cu, Caim?” eu diria. Mas o Senhor não queria saber a resposta de Caim. Sabe quando a gente cruza com alguém na rua e diz “E aí, tudo bem?” mas gente não quer saber se está tudo bem mesmo? Então. Antes que o pobre humano pudesse responder, Deus aproveitou a deixa para lançar mais um de seus conselhos de biscoito-da-sorte chinês. “Se praticares o bem, sem dúvida alguma poderás reabilitar-te. Mas se precederes mal, o pecado estará à tua porta, espreitando-te; mas, tu deverás dominá-lo” (Gênesis 4:7). Peraí, Deus! “Reabilitar-te” de que? De ter cometido o crime de te oferecer frutos (que, aliás, é muito mais saudável que churrasco. Caim estava preocupado com o colesterol de Deus e isso que ele recebe em troca)? E “praticar o bem” é fazer sacrifícios animais para o seu deleite? Certo então!

Certo dia Caim acorda com a bunda descoberta e resolve esgoelar o puxa-saco do Abel. Mas Deus tem um talento para não estar presente nos momentos cruciais da história. Lembra que, quando Eva aceitou o fruto da serpente, ele não estava e não viu nada? Pois é, ele também perdeu a parte em que Caim matou Abel. Devia estar no banheiro. Por isso, perguntou: “Onde está seu irmão Abel?". Caim, que já estava num humor daqueles, responde com um coice: “Não sei! Sou porventura eu o guarda do meu irmão?" (Gênesis 4:9). Sensacional! Finalmente alguém bateu o pé para Deus! “Caim, cadê Abel?” “Eu vou saber, porra? Já procurou embaixo da pilha de ovelhas torradas que ele fez para você?”. Boa Caim! Mas se tem uma coisa que Deus é bom, é em pegar a mentira dos homens no pulo. O Senhor percebe tudo, fica puto (de novo) e lança uma maldição (de novo). Caim não ia conseguir plantar mais nada e estava fadado a ser um peregrino errante pela terra, desses que empurra um carrinho de supermercado cheio de porcaria.

Caim não agüenta o tranco e choraminga: “Meu castigo é grande demais para que eu o possa suportar. Eis que me expulsais agora deste lugar, e eu devo ocultar-me longe de vossa face, tornando-me um peregrino errante sobre a terra. O primeiro que me encontrar matar-me-á" (Gênesis 4:14). Apesar da ótima escolha no uso da mesóclise (mandou bem com o “matar-me-á”), a preocupação de Caim de ser morto é em vão. Eu leio a Bíblia com um caderninho do lado para anotar a população da terra. Até pouco tempo atrás íamos em quatro pessoas: Adão, Eva, Caim e Abel. Caim fez o favor de matar 25% da população da terra. Caim, meu caro, pode vagar por aí numa boa! Ninguém vai te encontrar, rapaz! E quem te encontrar, vai ser da família, não é?

Mas Deus também não se toca disso e resolve quebrar o galho de Caim de uma forma que só faz sentido na cabeça dele: “’Não! Mas aquele que matar Caim será punido sete vezes.’ O Senhor pôs em Caim um sinal (uma camiseta com os dizeres “Quem me matar será punido sete vezes”?), para que, se alguém o encontrasse, não o matasse” (Gênesis 4:15). O mendigo Caim “foi habitar na região de Nod, ao oriente do Éden. Caim conheceu sua mulher. Ela concebeu e deu à luz Henoc. E construiu uma cidade, à qual pôs o nome de seu filho Henoc” (Gênesis 4:16-17). Pó-pará!!! Como assim “conheceu sua mulher”? Que mulher? De onde saiu essa sirigaita? Deus arrancou mais uma costela de Adão, fez outra mulher, e o livro omitiu essa parte? Ou essa mulher é também filha de Adão e Eva e, sinto muito, irmã de Caim? Desculpe-me, mas se eu tivesse comprado um livro que tem esse buraco na história, eu voltava na livraria para pedir meu dinheiro de volta. Enfim.

Um dos descendentes de Caim, chamado Lamec, de bobo só tinha o nome. “Lamec tomou duas mulheres, uma chamada Ada e outra Sela” (Gênesis 4:19). Ada teve um filho chamado Jabel, “que foi pai daqueles que moram em tendas, entre os rebanhos” (Gênesis 4:20) e outro chamado Jubal, “que foi o pai de todos aqueles que tocam a cítara e os instrumentos de sopro” (Gênesis 4:21). Já Sela, teve um filho chamado Tubal-Caim, “que foi o pai de todos que trabalham o cobre e o ferro” (Gênesis 4:22) e uma filha chamada Noema, que não foi porra nenhuma.

Lamec, um belo dia, chega para suas duas esposas e solta: “Ada e Sela, ouvi a minha voz: mulheres de Lamec, escutai as minhas palavras: Por uma ferida matei um homem, e por uma contusão um menino. Se Caim será vingado sete vezes, Lamec o será setenta e sete vezes” (Gênesis 4:24). Suponho que Ada e Sela se entreolharam com a aquela cara de “heim?”. Teria Lamec bebido água de salsicha? Estaria o velho ficando gagá?

Deixando o mistério no ar, nossa história volta repentinamente para Adão que ”conheceu outra vez sua mulher, e esta deu à luz um filho, ao qual pôs o nome de Set, dizendo: ‘Deus deu-me uma posteridade para substituir Abel, que Caim matou’. Set teve também um filho (com quem, mesmo?), que chamou Enos. E o nome do Senhor começou a ser invocado a partir de então” (Gênesis 4:25-26). Ficou parecendo que o autor se embananou com a história, não sabia como desatar o nó e inventou essa bobagem para terminar. Uma decepção para um capítulo que começou tão bombasticamente bom. E chega.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Interlúdio: Por que, meu Deus?

Por que diabos eu estou lendo a Bíblia Sagrada? Talvez Isaac Asimov já tenha respondido quando disse que “lida corretamente, a Bíblia é a mais poderosa força para o ateísmo jamais concebida”. Alguns se propõem a comer somente sanduíches do McDonald’s por um mês, outros se atiram numa floresta com apenas uma faca e um cantil. Bem, eu decidi ler a Bíblia para ver se sobrevivo até o fim.

E durante o processo vou escrever minhas impressões neste blog, enfatizando os absurdos históricos, científicos e morais da Bíblia. Muitos podem achar injusta a leitura de partes como a criação de Adão e Eva com rigor científico. Muitos cristãos (mas não todos!) as entendem como metáforas e, questionar incoerências nessas passagens, seria chutar cachorro morto. Certo, certo. Mas, em algum momento, esse livro deixa de contar fábulas para relatar supostos fatos históricos. Sempre que arqueólogos descobrem algum barco muito velho, muitos cristãos batem palminhas para o que pode ser uma nova “evidência” do dilúvio. E um número maior ainda, apesar de duvidar que uma serpente de fato falou com Eva, acredita que Jesus transformou água em vinho e ressuscitou um morto já em estado de putrefação! Pois, como cada um escolhe o que é fabula e o que não é, eu vou simplesmente ler o livro e dizer o que eu acho.

E de qualquer forma, seja como metáfora ou relato histórico, a Bíblia traz conceitos maravilhosos como machismo, escravidão, pena de morte por apedrejamento e muitos outros! Gostaria muito de receber comentários me corrigindo, me explicando que eu burramente entendi certo trecho errado, e que na verdade é assim e assado. Até permiti que comentários sejam feitos anonimamente, para encorajar os mais tímidos.

Enfim, espero que gostem do blog e espero que eu consiga mantê-lo! Tenho muitos amigos cristãos que certamente tem a inteligência e o bom humor para não levar esse blog tão a sério. E até dar risada de alguma bobagem que eu escrever aqui.

sábado, 31 de outubro de 2009

Gênesis 3



Se você ainda acha que a história não está avacalhada o suficiente, quem sabe agora: Animais falantes! É assim que Gênesis 3 começa. “A serpente era o mais astuto de todos os animais dos campos que o Senhor Deus tinha formado. Ela disse a mulher: ‘É verdade que Deus vos proibiu comer do fruto de toda árvore do jardim?’” (Gênesis 3:1). Papo vem, papo vai, a mulher cai no golpe da serpente e come o fruto da árvore-da-ciência-do-bem-e-do-mal (nome comprido, né?). E ainda “(...) o apresentou também ao seu marido (quando eles casaram mesmo? Perdi essa parte!), que comeu igualmente” (Gênesis 3:6).

Antes de continuarmos, só um adendo. Eu não gosto de pegar no pé de divindades, mas veja só: Deus colocou a tal árvore proibida no jardim do Éden, certo? Deus também colocou um animal (falante, eu insisto) cheio de malemolência nesse mesmo jardim, certo? Desculpe, mas não precisa ser nenhum engenheiro para ver que a merda estava feita. Cedo ou tarde a coisa ia desandar.

E desandou. Tamanho foi o revertério que fruto causou na barriga dos dois, que eles finalmente perceberam que estavam nus! E “tomaram folhas de figueira, ligaram-nas e fizeram cinturas para si” (Gênesis 3:7). (Exatamente! Então se você está aí nu enquanto lê este blog, pode ir já pegar uma folha de figueira e cobrir suas vergonhas!) E apesar de tanto pudor, não achei nenhum versículo que dissesse que o homem reclamou do topless da mulher. Mas enfim, isso é só minha mente maculada trabalhando. Voltemos à novela.

O homem e a mulher escutaram os passos de Deus, que estava dando uma voltinha e curtindo a brisa da tarde (mesmo!), e se esconderam nas árvores. Mas Deus, já sentindo cheiro de encrenca, chama pelo homem que se entrega e diz “Ouvi o barulho dos vossos passos no jardim; tive medo, porque estou nu; e ocultei-me” (Gênesis 3:10). O Senhor, em sua sapiência, percebe que tem gato nessa tuba e começa o interrogatório: “Quem te revelou que estavas nu? Terias tu porventura comido do fruto da árvore que eu te havia proibido de comer?” (Gênesis 3:11). “Responde, filhadaputa!” eu teria adicionado.

O homem, num ato de covardia digno do primeiro ser humano da terra, não hesita em dedurar a mulher logo de cara: "A mulher que pusestes ao meu lado apresentou-me deste fruto, e eu comi” (Gênesis 3:12). Ah safado! A mulher, vendo que o homem se livrou rapidinho, passa a batata quente para a serpente: "A serpente enganou-me,- respondeu ela - e eu comi." (Gênesis 3:13). Deus ficou puto. Se podemos tirar alguma lição deste livro, é que emputecer Deus é um péssima idéia. De nada adiantou o homem, a mulher e a serpente ficarem jogando a culpa um no outro. Deus resolveu foder a vida dos três.

A serpente, “serás maldita entre todos os animais e feras dos campos; andarás de rastos sobre o teu ventre e comerás o pó todos os dias de tua vida. Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu ferirás o calcanhar" (Gênesis 3:14-15). Tomou? Aparentemente, a serpente tinha pernas e esse corpo esguio e rastejante que conhecemos hoje foi uma maldição divina. Ô castigo! Além disso, se o objetivo do Senhor Deus era criar uma inimizade entre a mulher e a cobra, o tiro saiu pela culatra.

Para a mulher, Deus, em sua ira, lançou: “Multiplicarei os sofrimentos de teu parto; darás à luz com dores, teus desejos te impelirão para o teu marido e tu estarás sob o seu domínio” (Gênesis 3:16). É isso mesmo. A mulher estará sob o domínio do homem. Um conceito perfeitamente aceitável se você vive numa tribo no oriente médio há milhares de anos atrás, quando uma mulher valia pouco mais que um bom camelo. Ainda bem que ninguém mais leva esse livro a sério hoje em dia! E, por falta de evidências históricas, só me resta supor que o seguinte diálogo aconteceu entre o homem e o Senhor:

- Deus, aquela história de multiplicar os sofrimentos do parto e tal... Você vai aumentar o tamanho da cabeça do neném ou diminuir a...?
- Vou diminuir a...
- YESSS!!!

Mas o Senhor interrompeu a alegria serelepe do homem ao dizer: "Porque ouviste a voz de tua mulher e comeste do fruto da árvore que eu te havia proibido comer, maldita seja a terra por tua causa. Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de tua vida. Ela te produzirá espinhos e abrolhos, e tu comerás a erva da terra. Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que foste tirado; porque és pó, e pó te hás de tornar” (Gênesis 3:17-19). É isso, meu amigo. O homem, que levava a vida na flauta, saltitando pelo Éden, balançando seu pirulito para lá e para cá, vai ter que começar a pegar no batente! E tudo isso porque ele cometeu o erro de ouvir a voz da mulher! Esposa aqui não pode nem abrir a boca.

Finalmente, aprendemos os nomes dos nossos heróis. “Adão pôs à sua mulher o nome de Eva, porque ela era a mãe de todos os viventes” (Gênesis 3:20). Se isso não fez o menor sentido para você também, ótimo. Então Deus, achando que as folhas de figueira eram muito sensuais e sem o menor problema em usar casacos de pele, “fez para Adão e sua mulher umas vestes de peles, e os vestiu. E o Senhor Deus disse: ‘Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal. Agora, pois, cuidemos que ele não estenda a sua mão e tome também do fruto da árvore da vida, e o coma, e viva eternamente’" (Gênesis 3:21-22). Alto lá! “Como um de nós” quem, cara pálida? Com quem Deus está falando? Com outros deuses? Nem chegamos na parte da Santíssima Trindade e já podemos jogar o monoteísmo pela janela! E Deus, sabiamente, não quer que seu pet viva eternamente. Se bem que, se isso fosse uma preocupação minha, eu teria escolhido um hamster.

Tá cansado? Eu também, mas já está acabando. Deus então dá o primeiro pé-na-bunda da história e expulsa Adão e Eva do Éden e, provavelmente por ordem da seguradora, coloca querubins armados até os dentes protegendo a árvore da vida eterna. Tenha medo!

Nesse capítulo vimos como e porque a humanidade vive neste mundo cheio de filas de banco e internet lenta, e não no paraíso. O texto deixa claro, mais de uma vez, que a mancada da mulher foi o estopim para toda a miséria e desgraça do planeta. Podíamos deixar de hipocrisia e rebatizar “O Pecado Original” para “A Cagada de Eva”. Mas cá pra nós, preciso advogar em defesa da portadora da primeira mitocôndria. Imagine que um adulto entrega uma caixa de fósforos para duas crianças, chamadas Adão e Eva, brincarem. Eva risca um fósforo e queima Adão. Quem é o imbecil da história? Obrigado.

Para terminar, recapitulemos o que Deus disse para Adão em Gênesis 2. Se o homem comesse o danado do fruto ele morreria “indubitavelmente”. Ele não morreu. Além de irresponsável e vingativo, podemos adicionar mentiroso à lista de adjetivos para o nosso bom Deus.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Gênesis 2

Neste capítulo "O Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou-lhe nas narinas um sopro de vida e o homem se tornou um ser vivente" (Gênesis 2:7). Isso mesmo, fez um boneco de barro, uma RCP meio torta e voilá! O homem! E, de quebra, ainda fez um jardim do Éden para o seu novo pet viver.

Nesse jardim havia a árvore da ciência do bem e do mal (heim?) e, sobre ela, Deus falou o primeiro de muitos "Nananina-não! Não pode!". Veja: "Podes comer do fruto de todas as árvores do jardim, mas não comas do fruto da árvore da ciência do bem e do mal porque no dia em que dele comeres, morrerás indubitavelmente" (Gênesis 2:16-17).

Ok, pó-pará! Por que diabos (sim, eu sei) Deus plantou essa tal árvore em primeiro lugar? Sugestão do paisagista? Ou para testar o homem (olha o nosso Deus cientista aí gente!)? Ou para ter o prazer autoritário de dizer “Não pode! Rá!”? É como um botão que diz “não aperte esse botão”. Ou como um bolo com calda de chocolate que a criança não pode passar o dedo. Ao longo de nossa saga, veremos como Deus gosta desses joguinhos. Enfim, voltemos a ela.

Depois de deixar seu pet cagando de medo, Deus disse: "Não é bom que o homem esteja só; vou dar-lhe uma ajuda que lhe seja adequada.” (Gênesis 2:18). Então o Todo-Poderoso e o homem olharam todos os animais em busca dessa tal ajuda. Deus aproveitou a deixa para fazer uma revisão taxonômica e deu nome a todas as espécies. Pergunto-me se o homem tinha um caderninho ou se ele decorou tudo mesmo (chutando bem baixo, existem cerca de 20 milhões de espécies de organismos no planeta). Mas a verdade é que “(...) não se achava para ele uma ajuda que lhe fosse adequada” (Gênesis 2:20). Deus, astuto que é, veio com a solução: “Então o Senhor Deus mandou ao homem um profundo sono; e enquanto ele dormia, tomou-lhe uma costela e fechou com carne o seu lugar. E da costela que tinha tomado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher, e levou-a para junto do homem” (Gênesis 2:21-22).

Está confuso? Zonzo? Náuseas e dores lombares? Eu vou sintetizar para você. Deus resolve que o homem precisa de um ajudante; nenhum animal serve; Deus faz a primeira anestesia geral da história, arranca uma costela do homem e faz a ajudante perfeita: a mulher! E ainda dizem que a Bíblia é machista? Blasfêmia! Até imagino como foi Deus e o homem buscando um ajudante:

- Olha aqui, homem, esse animal, que se chama vaca a propósito... isso... va-ca... é perfeito, modéstia a parte! Dá leite, puxa carroça e, no rolete, fica um pecado!
- Um o quê?
- Deixa pra lá. Mas e aí? O que achou?
- Hmm... sei não... muito grande... não cheira muito bem... só faz ‘muuu’...
- É... vendo por esse ângulo... Já sei! Faz assim, vai dormir e, quando você acordar, vai ter um ajudante muito melhor que uma vaca!

É, pois é. Mas o melhor deste capítulo é o desfecho. “O homem e a mulher estavam nus, e não se envergonhavam” (Gênesis 2:25). Isso, você leu direito. Eles estavam nus e... atenção! Está sentado? Lá vai... NÃO SE ENVERGONHARAM!!! Mas COMO?!? Sério, me poupe. Não quero estragar surpresas vindouras, mas essa mamata de ficar pelado e sem culpa vai acabar já já. Aliás, espero que esteja com a coluna boa, porque toneladas de culpa vem aí para você carregar nas costas. Mas tem tempo ainda. Recomendo pilates.

sábado, 24 de outubro de 2009

Gênesis 1

Nossa fábula começa com Deus criando os céus e a terra, dizendo "faça se a luz!" e tudo aquilo que todo mundo já está careca de saber. Mas, trocando em miúdos, Deus, em seis dias de extrema produtividade, criou o mundo como o conhecemos.

Ou melhor, como as pessoas no oriente médio, pouco depois da idade do bronze, o conheciam. Hoje em dia sabemos que a Terra é redonda, orbita em volta do Sol (a fonte da tal da luz, lembra?), que o sistema solar está em uma das bilhões de galáxias que existem no universo, entre outras recentes, quentinhas e bombásticas descobertas da ciência! Desculpe, não queria te derrubar da cadeira com tantas novidades. Fica meio difícil encaixar essa fábula num contexto cosmológico. Mas enfim, não pretendo discutir as incoerências científicas do livrão (mas acho que cedo ou tarde irei cair em tentação!). Bola pra frente!

O mais interessante nesse começo é que várias vezes "Deus viu que era bom"! Exatamente! Ele criou a luz meio na cega (desculpe, piadinha inevitável) e depois, pasmem, viu que era bom! Ele, apesar de sua famosa onisciência, não sabia se a luz era boa ou não, pensou "quer saber?" e Shazam!, criou a luz! "Olha! Não é que é bom esse negócio de luz?". E assim fez com as ervas, árvores, estrelas e o escambau. Criou, e viu que era bom! Deus estava experimentando, o que faz dele o primeiro cientista de todos os tempos, não é irônico? Já estou gostando desse cara!