segunda-feira, 28 de maio de 2012

Gênesis 40 - 41

"Quadro escuro repleto de conteúdo homo-erótico" de Alexander Ivanov, 1781 - Afresco.

Amém, irmãos? Amém. Quando deixamos nosso herói José, ele havia sido jogado num presídio para mofar e apodrecer. Mas como todo descendente d’A Putinha de Javé, Abraão, ele logo virou o jogo e se tornara um respeitado ajudante de carcereiro. A glória!

Nosso capítulo começa com a chegada de dois novos prisioneiros: o copeiro-mor e o padeiro-mor do Faraó, flagrados num esquema de notas frias e orgias com travestis anões do Leste-Europeu. “Havia já um certo tempo que estavam detidos, quando os dois prisioneiros,” entre uma enrabada e outra, “tiveram um sonho numa mesma noite, cada um o seu, com seu sentido particular” (Gênesis 40:5). José, que muito antes de Freud já se metia a interpretar sonhos, interveio: “Rogo-vos que mos conteis" (Gênesis 40:8). O copeiro-mor foi primeiro: “Em meu sonho, vi uma cepa que estava diante de mim, e nesta cepa três varas, que pareciam brotar; saiu uma flor e seus cachos deram uvas maduras. Eu tinha na mão a taça do faraó; tomei as uvas e espremi-as na taça, que entreguei na mão do faraó" (Gênesis 40:9-11). Entendeu? Três varas brotando. Uvas maduras. Seria mesmo um sonho, ou só mais uma tórrida noite com seus companheiros de cela? Engana-te, pagão imundo! “As três varas são três dias”, disse José. “Dentro de três dias, o faraó te reabilitará em tuas funções” (Gênesis 40:12-13). Hmmm, então tá então.

"Eu também, em meu sonho,” disse o padeiro-mor, “levava sobre minha cabeça três cestas de pão branco. Na de cima, havia toda a sorte de manjares para o faraó; mas as aves do céu comiam-nas na cesta que estava sobre minha cabeça" (Gênesis 40:16-17). José fez aquela cara de “veja bem”, coçou a barbicha e pigarreou. “As três cestas são três dias. Dentro de três dias, o faraó levantará a tua cabeça: ele te suspenderá numa forca, e as aves devorarão a tua carne” (Gênesis 40:18-19). Aí fodeu pro lado do padeiro. Teria ele esquecido o forno ligado e queimado a rosca do Faraó para merecer tamanho castigo? Nunca saberemos. Mas as previsões de José foram tiro e queda. Três dias depois, o copeiro-mor ganhou o emprego de levar caipirinha pro Faraó de volta. Já o padeiro-mor foi enforcado, levando para o túmulo aquela receita de pão-de-queijo. Como ele fazia pra ficar tão macio?

Dois anos se passaram e foi a vez do Faraó ter seu sonho misterioso: “Encontrava-se ele perto do Nilo, de onde saíram sete vacas belas e gordas, que se puseram a pastar a verdura. Mas, eis que saíram em seguida do mesmo Nilo sete outras vacas, feias e magras, que vieram e se puseram ao lado das outras na margem do rio. As vacas feias e magras devoraram as sete vacas belas e gordas” (Gênesis 41:1-4). O Faraó acordou no meio da noite num grito de horror. O travesseiro empapado e o pijama molhado que só pano de enrolar cuscuz. Misericórdia! Seu copeiro-mor apareceu de imediato com um copo de leitinho morno e logo o Faraó conseguiu dormir de novo. Mas os pesadelos voltaram a lhe atormentar: “Sete espigas grossas e belas (hmm...) saíam de uma mesma haste. Mas eis que em seguida germinaram sete outras espigas, magras e ressequidas pelo vento do oriente. E as espigas magras devoraram as sete espigas grossas e cheias“ (Gênesis 41:5-7). Certo. Foi o mesmo sonho, só que com espigas no lugar de vacas, né? Que bosta.

O copeiro percebendo que seu Faraó continuara a se estrebuchar inquieto na cama, lembrou-se de seu episódio na prisão com José, o famigerado Djôuzef. “Ora, estava lá conosco um jovem hebreu, escravo do chefe da guarda. Contamos-lhe nossos sonhos, e ele no-los interpretou, a cada um o seu” (Gênesis 41:12). O Faraó ficou intrigado. “Pois tragam-me este fidiputa”, bradou. José tomou um banho, se barbeou, passou desodorante, escovou os dentes e se apresentou para o Faraó. "Tive um sonho”, disse o Faraó, “que ninguém pôde interpretar. Mas ouvi dizer de ti, que basta contar-te um sonho para que tu o expliques". Mas Djôuzef, numa falsa modéstia respondeu: "Não sou eu, mas é Deus quem dará ao faraó uma explicação favorável” (Gênesis 41:15-16). Toma essa, infiel! José é um canal direto com o Bom Senhor, uma espécie de walkie-talkie cósmico. Pois bem, o Faraó contou-lhe o sonho e José matou a charada: “As sete belas vacas são sete anos, e as sete belas espigas, igualmente, sete anos; o sonho é um só”. Ah vá! “Virão em seguida sete anos de miséria que farão esquecer toda a abundância no Egito. A fome devastará o país” (Gênesis 41:26-30). Póta-quéu-paréu!, pensou o Faraó. Como poderia ele e seu povo enfrentarem estes vindouros anos de vacas magras (tirum-tish!)?

Nosso herói José, quem mais?, já veio com a solução: A quinta parte de todas as colheitas dos anos de vacas (ou espigas) gordas deveriam ser armazenadas e utilizadas durante a crise. E ainda, o Faraó deveria nomear alguém pra administrar o plano, alguém pra por ordem na casa. "Poderíamos,” disse José,”encontrar um homem que tenha, tanto como este, o espírito de Deus?" (Gênesis 41:38). Em outras palavras: “Que tal eu?”. O Faraó caiu como um pato: “Pois que Deus te revelou tudo isto, não haverá ninguém tão prudente e tão sábio como tu” (Gênesis 41:39). Ah Djôuzef, tu és uma raposa! Mas será que o Faraó não lembra que a última vez que ele concedeu regalias a José, ele acabou enroscado no manto da Senhora Faraó? Mas enfim, “o faraó, tirando o anel de sua mão, pôs na mão de José; e o fez revestir-se de vestes de linho fino e meteu-lhe ao pescoço um colar de ouro” (Gênesis 41:42). É, apesar do cristianismo pregar a humildade o desapego aos bens materiais, seus patriarcas não pareciam ter problemas em se vestir como cafetões do deserto. E de brinde, o Faraó deu a filha do Eunuco Putifar, Asenet, para José. Filha a qual eu suponho que tenha sido gerada antes do eunuco ter aceitado o emprego.

Mas enfim, os anos se passaram e o plano de José funcionou suave como uma máquina bem azeitada. As aventuras de José ainda não acabaram, mas pela segunda vez vimos ele ir do lixo ao luxo, tal qual uma Cinderela Baiana. E é isso.