segunda-feira, 29 de julho de 2013

Gênesis 46-47


José pede para que seu pai Jacó tome um banho, por favor.


Há quem diga que a família tem que estar perto o suficiente pra não precisar vir de mala, mas longe o suficiente pra não vir de chinelo. O superintendente do Egito, José, agora franzia a testa pensando se foi uma boa idéia convidar o seu pai Jacó e o resto da família pra morar com ele. Entre filhos, noras, genros, gatos, cachorros, chinchilas e papagaios, eram mais de setenta pessoas. Haja puxadinho pra toda essa gente.

Durante a viagem, o Povo Escolhido resolveu fazer um pit-stop em Bersabéia, pra esticar as pernas, fazer xixi e comprar aquele doce de leite em cubinhos que parece que só tem em parada de estrada. O velho Jacó, depois de horas caminhando no deserto com o sol fritando-lhe a moranga, teve uma alucinação febril. Ou, como os cristãos gostam de dizer, Deus lhe apareceu. "Jacó! Jacó!", bradou Javé numa voz trovejante e com aqueles ecos vagabundos de karaokê. "Eu sou Deus, o Deus de teu pai. Não temas descer ao Egito, porque ali farei de ti uma grande nação. Descerei contigo ao Egito, e eu mesmo te farei de novo subir de lá. José fechar-te-á os olhos"
(Gênesis 46:2-4). O bom Deus vem prometendo esse papo de “grande nação” desde os tempos de Abraão. Até agora eu só vi merda, mas vamos lá.

No Egito, José os esperava na cidade Gessém. Quando viu o velho Jacó, se jogou nos braços dele e caiu no choro. "Agora posso morrer, porque vi o teu rosto, e vives ainda!" (Gênesis 46:30). Óun, mimimi. José disse que ia avisar ao Faraó da chegada de sua numerosa e incômoda família, e que era melhor que eles arreassem as malas aqui em Gessém mesmo, “porque os egípcios têm aversão aos pastores" (Gênesis 46:34) (Olha que coincidência, eu também tenho aversão à pastores. Chega a dar coceira). Se foi uma desculpa que José inventou pra manter a família a certa distância eu não sei, mas colou.

E tão logo o povo escolhido se assentou em Gessém, uma terrível falta de pão começou a assolar o Egito. Filas e quebra-quebra nos supermercados e padarias. Não tinha pão de forma, pão de cachorro-quente, bisnaguinha nem baguete. Só uma casa do Egito tinha uma fartura de pães, bolos e biscoitos: A casa do Faraó! Ah, filhadaputa. O superintendente José havia estocado trigo e agora era tanto pão que até sobrava pra fazer rabanada. O povo esfomeado, que não tinha dinheiro para comprar o trigo do Faraó, juntou-se na porta de José para mendigar. “Dá-nos pão. Por que morreremos na tua presença por falta de dinheiro?" (Gênesis 47:15). O escroto do José apareceu na sacada, degustando lentamente uma rosca glaceada ainda quentinha. Ele olhou o populacho faminto com desdém e gritou: “Vocês estão pensando que aqui é a fila da sopa pra mendigo, porra? Onde já se viu pão de graça? Heim, bando de vagabundo?”. Que pulha. "Trazei vossos animais,” continuou “se não tendes dinheiro, e dar-vos-ei pão em troca" (Gênesis 47:16).

E assim o fizeram. José se apropriou de mulas, camelos, cabras, cavalos e até um guaxinim. E em troca o povo ganhou pão velho, já com as bordinhas fungando. Mas, ao contrário de cabras, pão não tem filhote, e logo acabou. O povo, sem o mel nem a cabaça, foi mendigar novamente na porta de José que, dessa vez, apareceu acariciando uma linda ovelhinha no colo. “O que foi agora, bando de desdentado? Acabou pão? Nhá-há!”. Ao que o povo respondeu “Compra-nos a nós e a nossas terras em troca de pão, e nós e nossas terras seremos escravos do faraó. Dá-nos sementes, para que vivamos e não morramos, e não seja desolado o nosso solo" (Gênesis 47:19).

E assim José, o herói bíblico do momento, o escolhido por Javé, o exemplo a ser seguido, escravizou todo um povo quando ele estava mais vulnerável. Pudera os cristãos serem tão bons de negócio  hoje em dia. E caso você esteja se perguntando, José não escravizou sua própria família. Essa já estava por cima da carne seca em Gessém. A Glória!

Mas nem tudo eram flores e escravos na vida de José. Seu pai Jacó estava com cento e quarenta e sete anos (parece mentira, né?) e um pé na cova. O velho chamou seu filho para o leito de morte e disse: “Se achei graça diante de teus olhos, mete, rogo-te, tua mão debaixo de minha coxa e promete-me, com toda a bondade e fidelidade, que não me enterrarás no Egito” (Gênesis 47:29). De novo esse papo de meter a mão embaixo da coxa. Que fetiche bizarro. E o último desejo do velho era não ser enterrado nessa terra de gente estrangeira. Ica! José respondeu “claro, papai”, mas pensando “porra, não dava pra pedir algo mais fácil? Tipo tocar Michel Teló no funeral… ou enterrar ele com sua guitarra favorita… sei lá”.

E foi isso. Ao que tudo indicava, era o fim do velho Jacó. Tá triste?

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Gênesis 42-45


Os irmãos de José são pegos com o dedo no mel.

Queima na Glória, leitor!

José, que agora era administrador do Egito, estava por cima da carne seca. Vivia de banho tomado, cabelo engomado, rái-bã e palito na boca. Já nas terras adjacentes ao Egito, inclusive onde viviam seus irmãos que há muito passaram-lhe a perna, a crise se abatia e não tinha trigo nem pra fazer sopa. Mesmo assim, os irmãos de José só queriam saber de acordar meio-dia e jogar videogame até de madrugada. Nenhum filhodeputa levava nem o lixo pra fora. O velho Jacó, que não era lá muito famoso pela paciência, já estava ficando puto. “Por que estais olhando uns para os outros, porra? Eu soube que há trigo no Egito. Descei lá e comprai-o para nós; poderemos assim viver e escaparemos à morte" (Gênesis 42:1-2). O único que se safou da viagem foi Benjamim, segundo mais novo e inventor do multiplicador de tomadas, que ficou por ordem do próprio Jacó. Vai entender a cabeça desse velho idiota.

Quando chegaram frente a José para comprar víveres, sequer o reconheceram, de tanto tempo que havia se passado e por causa do bigode falso, comprado na 25, que ele estava usando. Mas José os reconheceu e, escroto que era, resolveu fazer uma pegadinha. Dizem que o diálogo foi mais ou menos assim:

- “O que querem agora esses punheteiros à minha frente? De onde caralho vieram?”, disse José.
- “Da terra de Canaã, para comprar víveres.
- “Paus em vossos cus. Vocês são espiões, maconheiros e pederastas.”
- “Não, meu senhor, teus servos vieram comprar víveres. Somos todos filhos dum mesmo pai, somos gente honesta; teus servos não são espiões.”
- (José com os olhos fechados e dedos nos ouvidos:) “Lálálálálálá! Eu não tô ouvindo nadaaaaa!”
- "Somos doze irmãos, filhos dum mesmo pai, na terra de Canaã. O mais novo está agora em casa de nosso pai, o outro já não existe." (Gênesis 42:7-13)
- “LÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁlálálálálálálálálálálálá!”
Aos irmãos de José só restou olharem uns para os outros, com cara de ponto de interrogação.
- “Ok, basta dessa putaria”, disse José finalmente, “já ouvi o suficiente. Janjão!!!”. Um agrandalhado guarda-costas em típicos trajes egípcios entrou na câmara. “Jogue esses mãos-peludas no xilindró! E não os dê o pote de vaselina. Eles merecem conhecer a verdadeira hospitalidade egípcia... MUUAAAHAHAHAHAHA!”.

Que pulha que esse José se tornou, né? Mas depois de três dias, muita penetração anal e nenhuma gota sequer de vaselina, José resolveu fazer um acordo com seus prisioneiros. “Um de vocês punheteiros deve ficar aqui como refém, enquanto os outros podem voltar para Canaã levando a merda do trigo que vocês tanto querem. Tragam esse irmão mais novo, Benjamim, para a minha presença para provar que falam a verdade, e paro de comer-lhes o cu”. E assim o fizeram, deixando Simeão como refém e noivinha do presídio. Mas os ardis de José ainda não haviam terminado. Antes de partirem, José colocou o dinheiro de cada um dos irmãos de volta nos seus respectivos sacos de trigo, de modo que os víveres saíram de graça. Pegou? Nem eu.

Quando chegaram de volta a Canaã, na casa de seu pai Jacó-barra-Israel, os irmãos de José abriram seus sacos de trigo, encontraram seu dinheiro nas bocas dos sacos e ficaram sem entender bosta. Contaram o que havia se passado para seu pai, dizendo que deixaram Simeão como cheque-caução e que tinham que levar Benjamim para o Egito. O velho Jacó ficou de mimimi: “José já não existe, Simeão tampouco, e quereis me tomar ainda Benjamim!” (Gênesis 42:36). Mas papo foi, papo veio e Jacó se convenceu, ainda ordenando que levassem bens para puxar o saco de José. “Se assim é, tomai em vossas bagagens os melhores produtos da terra, e levai-os como presente a esse homem: um pouco de bálsamo, um pouco de mel, resina, láudano, nozes de pistácia e amêndoas” (Gênesis 43:11). Quem não gosta de resina, né?

E assim os irmãos montaram em seus jumentos e rumaram de volta para o Egito. Quando José viu que seus irmãos cumpriram com o prometido, mandou preparar-lhes um almoço digno. “Faze entrar estes chupa-rolas na casa, mata uma vaca, um carneiro ou sei lá o caralho que a gente cria, e prepara-o, pois comerão comigo ao meio-dia”. Mas os irmãos ainda estavam com o cu na mão, temendo o que José iria fazer achando que eles haviam levado o dinheiro de volta. “Desculpa, meu senhor,” disseram eles, cagando-se todos, ao intendente de José, Janjão, “viemos já uma vez comprar víveres. Quando chegamos à estalagem e abrimos nossos sacos, o dinheiro de cada um se encontrava na boca de seu saco: era o peso exato do dinheiro. Tornamos a trazê-lo conosco; e trazemos, ao mesmo tempo, outro dinheiro para comprar víveres. Não sabemos quem tenha metido nosso dinheiro em nossos sacos". Ao que Janjão respondeu “ficai tranqüilos, nada temais, relaxa senão não encaixa. É o vosso Deus, o Deus de vossos pais, quem vos pôs um tesouro em vossos sacos; o vosso dinheiro me foi entregue” (Gênesis 43:20-23). Quer dizer então que esse tal de “vosso Deus” faz brotar dinheiro em saco, é? Só que não, porque quem colocou o dinheiro foi o escroto do José.

Durante o almoço, José perguntou para seus irmãos (que ainda não o reconheciam, lembrem-se) sobre seu pai. "Vosso velho pai, do qual me falastes, vai bem? Ou vive babando e se cagando?”. “Teu servo, nosso pai, está passando bem, e vive ainda” (Gênesis 43:28), responderam numa mesura. José se emocionou. Mas enfim, almoçaram, conversaram, riram e dizem até que rolou um carteado, uma mãozinha de buraco, se é que você me entende.

Pensa que acabou? Pensou errado, incauto leitor. José ainda tinha mais uma falcatrua reservada para seus irmãos e disse para seu fiel intendente: “Enche de trigo, pão dinheiro e o cacete a quatro os sacos destes homens, tanto quanto possam conter. Mas só pra foder com a cabeça deles mais uma vez, porás minha taça de prata na boca do saco do mais novo. Seguirás eles pelo deserto para pegá-los com a boca na butija! Uahá! Glu-glu! Pegadinha do José!” Mas que filho de uma puta esse José, heim? E assim foi feito. Quando Janjão enquadrou os irmãos, que não haviam roubado nada, eles tinham certeza que só podia ser um engano. “Pó-pará, seo intendente! Que aquele dos teus servos com quem for encontrada a taça morra, e, ao mesmo tempo, nós nos tornemos escravos do meu senhor" (Gênesis 44:9). Quando foram levados de volta (é... de novo...) para José, lá estava a taça de prata no saco do jovem Benjamim. Póta-quéu-paréu, pensaram os irmãos enquanto rasgavam as próprias vestes inconformados. O pulha do José não perdeu tempo para dar um esculacho. “Que bonito, heim, seu bando de filhos de putas! Que bonito! Vamos fazer assim: Benjamim, que foi encontrado com a taça e que tem a bundinha mais tenra [plim! piscadela!], será meu escravo. Vocês outros, voltem para suas casas e suas vidinhas ridículas na Terra de Canaã.” Mas Judá, um dos irmãos, sabia que, se o velho Jacó perdesse Benjamim, era piripaque na certa. “Rogo-te, pois,” implorou ele para José, “aceita que teu servo fique escravo de meu senhor em lugar do menino, para que este possa voltar com seus irmãos” (Gênesis 44:33).

Minha gente, que bololô, não é? Nem José podia mais levar adiante aquela farsa, aquele teatro, aquela pantomima macabra e doentia! “BASTA!!!”, gritou José arrancando seu bigode falso e caindo num choro descontrolado, “Baaaaasta desta putaria louca!!! Eu sou José! EU SOU JOSÉ, caralho!!!”. Os irmãos ficaram de queixo no chão. Não podiam acreditar no que estavam vendo. O irmão caçula que há anos atrás eles chuncharam dentro de um poço para dar um fim, era o administrador do Egito esse tempo todo. José finalmente havia tirado o peso da mentira das costas e agora estava mais calmo, disposto a perdoar. “Deus, o fodão dos fodões, enviou-me adiante de vós para que subsista um resto de vossa raça na terra, e para vos conservar a vida por uma grande libertação. Apressai-vos em voltar para junto de meu pai e trazei todo mundo para o Egito. Trazei suas esposas, filhos, netos, cachorro, papagaio e o cacete. Habitarás na terra de Gessém, bem perto de mim, e terão tudo de bom e do melhor do Egito: apartamento com varanda, churrasqueira, piscina e quadra poli-esportiva! Glória!!!”. E assim o fizeram. Voltaram para Canaã e contaram tudo para o velho Jacó que, tá justo, não podia acreditar. “José, meu filho, vive ainda. Irei e o verei antes de morrer" (Gênesis 45:28). E todos fizeram as malas para mudarem-se para o Egito e viver a vida boa.

Pois é, herege leitor. Era tudo um plano do Bom Javé® para manter a raça de Abraão viva durante os anos de penúria. Fodam-se todos os outros que não são do povo escolhido. Vimos que José, fazendo jus às outras figuras patriarcais do Cristianismo (e Judaísmo... e Islamismo), é um belo de um filho da puta e não vale seu peso em merda de camelo. Manipulou seus irmãos como marionetes. Foi um vai e vem do Egito, abre o saco, fecha o saco, prende, solta... e pra quê? Pra nada! Só pra torrar a minha e a sua paciência.

A história de José ainda não acabou. Porra. Mas falta pouco.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Gênesis 40 - 41

"Quadro escuro repleto de conteúdo homo-erótico" de Alexander Ivanov, 1781 - Afresco.

Amém, irmãos? Amém. Quando deixamos nosso herói José, ele havia sido jogado num presídio para mofar e apodrecer. Mas como todo descendente d’A Putinha de Javé, Abraão, ele logo virou o jogo e se tornara um respeitado ajudante de carcereiro. A glória!

Nosso capítulo começa com a chegada de dois novos prisioneiros: o copeiro-mor e o padeiro-mor do Faraó, flagrados num esquema de notas frias e orgias com travestis anões do Leste-Europeu. “Havia já um certo tempo que estavam detidos, quando os dois prisioneiros,” entre uma enrabada e outra, “tiveram um sonho numa mesma noite, cada um o seu, com seu sentido particular” (Gênesis 40:5). José, que muito antes de Freud já se metia a interpretar sonhos, interveio: “Rogo-vos que mos conteis" (Gênesis 40:8). O copeiro-mor foi primeiro: “Em meu sonho, vi uma cepa que estava diante de mim, e nesta cepa três varas, que pareciam brotar; saiu uma flor e seus cachos deram uvas maduras. Eu tinha na mão a taça do faraó; tomei as uvas e espremi-as na taça, que entreguei na mão do faraó" (Gênesis 40:9-11). Entendeu? Três varas brotando. Uvas maduras. Seria mesmo um sonho, ou só mais uma tórrida noite com seus companheiros de cela? Engana-te, pagão imundo! “As três varas são três dias”, disse José. “Dentro de três dias, o faraó te reabilitará em tuas funções” (Gênesis 40:12-13). Hmmm, então tá então.

"Eu também, em meu sonho,” disse o padeiro-mor, “levava sobre minha cabeça três cestas de pão branco. Na de cima, havia toda a sorte de manjares para o faraó; mas as aves do céu comiam-nas na cesta que estava sobre minha cabeça" (Gênesis 40:16-17). José fez aquela cara de “veja bem”, coçou a barbicha e pigarreou. “As três cestas são três dias. Dentro de três dias, o faraó levantará a tua cabeça: ele te suspenderá numa forca, e as aves devorarão a tua carne” (Gênesis 40:18-19). Aí fodeu pro lado do padeiro. Teria ele esquecido o forno ligado e queimado a rosca do Faraó para merecer tamanho castigo? Nunca saberemos. Mas as previsões de José foram tiro e queda. Três dias depois, o copeiro-mor ganhou o emprego de levar caipirinha pro Faraó de volta. Já o padeiro-mor foi enforcado, levando para o túmulo aquela receita de pão-de-queijo. Como ele fazia pra ficar tão macio?

Dois anos se passaram e foi a vez do Faraó ter seu sonho misterioso: “Encontrava-se ele perto do Nilo, de onde saíram sete vacas belas e gordas, que se puseram a pastar a verdura. Mas, eis que saíram em seguida do mesmo Nilo sete outras vacas, feias e magras, que vieram e se puseram ao lado das outras na margem do rio. As vacas feias e magras devoraram as sete vacas belas e gordas” (Gênesis 41:1-4). O Faraó acordou no meio da noite num grito de horror. O travesseiro empapado e o pijama molhado que só pano de enrolar cuscuz. Misericórdia! Seu copeiro-mor apareceu de imediato com um copo de leitinho morno e logo o Faraó conseguiu dormir de novo. Mas os pesadelos voltaram a lhe atormentar: “Sete espigas grossas e belas (hmm...) saíam de uma mesma haste. Mas eis que em seguida germinaram sete outras espigas, magras e ressequidas pelo vento do oriente. E as espigas magras devoraram as sete espigas grossas e cheias“ (Gênesis 41:5-7). Certo. Foi o mesmo sonho, só que com espigas no lugar de vacas, né? Que bosta.

O copeiro percebendo que seu Faraó continuara a se estrebuchar inquieto na cama, lembrou-se de seu episódio na prisão com José, o famigerado Djôuzef. “Ora, estava lá conosco um jovem hebreu, escravo do chefe da guarda. Contamos-lhe nossos sonhos, e ele no-los interpretou, a cada um o seu” (Gênesis 41:12). O Faraó ficou intrigado. “Pois tragam-me este fidiputa”, bradou. José tomou um banho, se barbeou, passou desodorante, escovou os dentes e se apresentou para o Faraó. "Tive um sonho”, disse o Faraó, “que ninguém pôde interpretar. Mas ouvi dizer de ti, que basta contar-te um sonho para que tu o expliques". Mas Djôuzef, numa falsa modéstia respondeu: "Não sou eu, mas é Deus quem dará ao faraó uma explicação favorável” (Gênesis 41:15-16). Toma essa, infiel! José é um canal direto com o Bom Senhor, uma espécie de walkie-talkie cósmico. Pois bem, o Faraó contou-lhe o sonho e José matou a charada: “As sete belas vacas são sete anos, e as sete belas espigas, igualmente, sete anos; o sonho é um só”. Ah vá! “Virão em seguida sete anos de miséria que farão esquecer toda a abundância no Egito. A fome devastará o país” (Gênesis 41:26-30). Póta-quéu-paréu!, pensou o Faraó. Como poderia ele e seu povo enfrentarem estes vindouros anos de vacas magras (tirum-tish!)?

Nosso herói José, quem mais?, já veio com a solução: A quinta parte de todas as colheitas dos anos de vacas (ou espigas) gordas deveriam ser armazenadas e utilizadas durante a crise. E ainda, o Faraó deveria nomear alguém pra administrar o plano, alguém pra por ordem na casa. "Poderíamos,” disse José,”encontrar um homem que tenha, tanto como este, o espírito de Deus?" (Gênesis 41:38). Em outras palavras: “Que tal eu?”. O Faraó caiu como um pato: “Pois que Deus te revelou tudo isto, não haverá ninguém tão prudente e tão sábio como tu” (Gênesis 41:39). Ah Djôuzef, tu és uma raposa! Mas será que o Faraó não lembra que a última vez que ele concedeu regalias a José, ele acabou enroscado no manto da Senhora Faraó? Mas enfim, “o faraó, tirando o anel de sua mão, pôs na mão de José; e o fez revestir-se de vestes de linho fino e meteu-lhe ao pescoço um colar de ouro” (Gênesis 41:42). É, apesar do cristianismo pregar a humildade o desapego aos bens materiais, seus patriarcas não pareciam ter problemas em se vestir como cafetões do deserto. E de brinde, o Faraó deu a filha do Eunuco Putifar, Asenet, para José. Filha a qual eu suponho que tenha sido gerada antes do eunuco ter aceitado o emprego.

Mas enfim, os anos se passaram e o plano de José funcionou suave como uma máquina bem azeitada. As aventuras de José ainda não acabaram, mas pela segunda vez vimos ele ir do lixo ao luxo, tal qual uma Cinderela Baiana. E é isso.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Interlúdio: Christopher Hitchens (1949 - 2011)

Se você se interessa por esses ateus extremistas e radicais* (e entende Inglês), espero que goste do vídeo abaixo.



* Ateus extremistas e radicais são aqueles que queimam pessoas na fogueira, jogam aviões em prédios, massacram "infiéis"... opa, não... espera... Esses são os religiosos extremistas e radicais. Me enganei.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Genesis 39


José encrencado no xilindró!

Erguei as mãos, infiéis! Erguei as mãos! Vocês lembram da história de José? Nem eu. Mas trocando em miúdos, José era o xodó do pai Israel e, por isso mesmo, o desafeto de todos o seus outros irmãos. Num belo de um balaio de gato, José acabou sendo comprado como escravo pelo eunuco Putifar, ex-ator pornô e atual chefe da guarda do Faraó Egípcio. E é assim que começa nosso capítulo, com Zezinho residindo e trabalhando na casa do patrão.

Mas José era um cara que tinha nascido com a bunda virada pra lua. “O Senhor estava com José, e tudo lhe prosperava” (Gênesis 39:2). E o Faraó percebeu que José era um cara ponta firme e confiou-lhe todos os seus bens e empreendimentos. E “o Senhor abençoou a casa do egípcio, por causa de José: a bênção do Senhor desceu sobre tudo o que lhe pertencia, na casa como nos campos” (Gênesis 39:5). Até o sinal do celular ficou mais forte e a internet parou de cair. Quando a benção do Senhor desce, desce com tudo!

A coisa ia muito bem até o surgimento de um fator complicante: A mulher do Faraó (não, a Bíblia não se dá ao trabalho de dar um nome à ela) resolveu que queria dar para José. Aí, meu caro, o caldo engrossou. Uma bela noite ela se aproximou de José vestindo uma toga pra lá de provocante e disse: “Dorme comigo.” (Gênesis 39:7). “Dorme comigo, seu pedaço de mau caminho!”. Mas nosso herói não queria furar o zóio de seu patrão e resistiu ao lânguido flerte da primeira-dama. “Como poderia eu cometer um tão grande crime e pecar contra Deus?” (Gênesis 39:9). E logo correu para o banheiro pra tomar aquela ducha gelada. Mas as investidas da mulher-do-Faraó continuaram diariamente e José se esquivava como podia. A mulher queria dar de qualquer jeito. Dava pra assar um espetinho de carne no calor que saía debaixo daquela toga! Misericórdia! Quando ela não se agüentava mais, agarrou José pelo manto e deu um ultimato: “Me possua, seu lindo!” Mas José era de ferro (ou a mulher era muito broaca mesmo) e saiu correndo, deixando-a com o manto na mão. E esse foi seu erro.

A mulher-do-Faraó, enfurecida por ter sido rejeitada como um tomate xoxo na feira, levou o manto para seu marido e disse: “O escravo hebreu que nos trouxeste, veio à minha procura para abusar de mim. Mas, pondo-me a gritar, deixou o seu manto ao meu lado e fugiu" (Gênesis 39:17-18). Filha da puta! Isso é calúnia! Tá lá no Código Penal, Artigo 138, confere? Mas o Faraó não quis saber. O seu escravo favorito, a quem lhe havia confiado até as cabras, meteu-lhe uma bola nas costas assim, sem dó? “Cadeia nele!”, bradou o Faraó, “Cadeia nele!”, e saiu batendo portas e chutando cadeiras. José foi enquadrado pela guarda faraônica, “teje preso!”, e imediatamente encaminhado para o presídio. Ô castigo, viu?

Mas como você bem sabe, amigo leitor, José era um dos predestinados, um dos sorteados na loteria cósmica do nosso Bom Javé. E onde ele ia, a benção divina ia atrás. Não demorou muito para que o carcereiro-chefe percebesse que Zé era o cara: gente fina, boa pinta e cheio de tereco-teco. Logo, José foi promovido de prisioneiro a ajudante de carcereiro, ficou responsável por todos os prisioneiros e nunca mais teve que abaixar para pegar o sabonete no banho coletivo. Ninguém soltava um pum que não tivesse o aval de José. Glória ao povo de Javé!

Que enrascadas será que aguardam nosso herói na sua nova vida no presídio?

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Interlúdio: Peraí.


O exausto autor deste blog descansa recostado numa pedra.

Glória, irmãos! Como já puderam perceber, o blog está novamente devagar quase parando. Ando trabalhando como um cão imundo e pestilento e o tempo que tenho livre tento ficar longe do computador. Esse livro escroto merece ser esculachado com capricho, e não quero fazer um serviço nas coxas. Sempre que possível, postarei novos capítulos, mas a coisa deve continuar bem devagar pelos próximos meses. Mas tenham fé! Os comentários deste e dos outros posts estão abertos para que todos contribuam com links, discussões ou meros insultos à minha pessoa. Saravá!

sábado, 6 de agosto de 2011

Gênesis 38 - Parte II


"Judá indaga Tamar sobre o preço do boquete" - Escola de Rembrant, óleo sobre tela.

Tamar viu os anos passarem enquanto esperava que o terceiro irmão, Sela, crescesse um bigodinho e pudesse desposá-la. Mas parece que, enquanto Sela ficava mais alto, as tetas de Tamar ficavam mais baixas, porque o menino não quis saber de negócio e a viúva ficou esperando. Que bela bosta. Mas um belo dia, seu sogro Judá vinha subindo o morro em que morava Tamar, e ela resolveu dar o troco. Tirou o maldito traje de viúva e se vestiu de quenga. “Judá, vendo-a, julgou tratar-se de uma prostituta, porque tinha o rosto coberto” (Gênesis 38:15). O rosto coberto, a bota 7/8 de vinil e o bustiê de veludo zebrado. Bem observado, Judá!

Pois o velho Judá achou o produto interessante e perguntou:

- Quanto é o programa?
- Depende... - respondeu Tamar fazendo uma expressão libidinosa, mas que ninguém viu, dado que tinha o rosto coberto.
- Cabelo, barba e bigode.
- Ah, aí vai te custar um camelo e duas galinhas.
- Um camelo e duas galinhas?!? - espantou-se Judá - A senhora só pode estar brincando, né? Te dou um porco e uma galinha.
- Então boa tarde, senhor.
- Peraí, peraí, peraí... ok, um cabrito, dos bons. E é minha oferta final.
- ...
- Negócio fechado?
- Negócio fechado. Nota fiscal paulista?

E assim Judá, sem saber, passou a vara na mulher que foi sua nora duas vezes (pra você que achava que a Santa Bíblia já tinha esgotado seu repertório de sexo bizarro). Mas, como o pagamento, o cabrito, teria que ser trazido no dia seguinte, a cortesã queria uma garantia. “Que penhor queres que eu te dê?", perguntou Judá. "Teu anel, teu cordão e o bastão que tens na mão." (Gênesis 38:18), respondeu a disfarçada Tamar. Judá ainda estava com o bastão na mão e já estavam falando de negócios. Mas assim o fizeram.

No dia seguinte, Judá mandou um colega levar o cabrito e pegar o anel, o cordão e o bastão de volta. "Onde está aquela prostituta que estava em Enaim, à beira do caminho?", e os transeuntes fizeram cara de interrogação: “Não há prostituta nesse lugar!" (Gênesis 38:21). Pois é, não havia sinal da garota de programa. O que Tamar fez é o que na balada chamam de “dar um perdido”. A menina fala “vou lá no bar pegar uma Smirnoff e já volto, tá gatinho?” e puf!, some numa nuvem de glitter e perfume barato para todo o sempre. Enfim. O amigo de Judá trouxe o cabrito de volta e disse que não tinha prostituta nenhuma não sinhô. "Guarde ela o meu penhor, respondeu Judá, não nos tornemos ridículos!” (Gênesis 38:23). Judá resolveu varrer essa história pra debaixo do tapete. Mal sabia ele que tinha caído como um pato na armadilha de Tamar.

Três meses depois, o fofoqueiro da vila disse a Judá: “Tamar, tua nora, conduziu-se mal: vê-se que está grávida". Má-quê! "Tirai-a para fora, que ela seja queimada!" (Gênesis 38:24), bradou Judá. Tenha a santa paciência também. Tamar teve dois maridos pulverizados pelo Bom Senhor. Ela se manteve casta e fantasiada de viúva por anos, esperando um terceiro marido que nunca veio. E agora, porque engravidou, ela merece ser queimada? Mas Tamar ainda tinha uma carta, e era o zap! "Concebi do homem a quem pertence isto: examine bem, ajuntou ela, de quem são este anel, este cordão e este bastão". Truco, marreco! “Judá, reconhecendo-os, exclamou: ‘Ela é mais justa do que eu; pois que não a dei ao meu filho Sela.’ E não a conheceu (meteu) mais” (Gênesis 38:25-26). Convenhamos que Judá sabe reconhecer uma derrota.

Meses depois, Tamar sentiu as dores do parto e, obviamente, eram gêmeos. Quando a mãozinha do primeiro saiu, a parteira amarrou um fio vermelho no pulso, tamanha era a importância da primogenitura para esse povo primitivo. Mas, provavelmente incomodado pela parteira amarrando uma porcaria no pulso, o bebê embirocou de volta para Tamar. E nessa, o outro saiu, emputecendo a parteira. "Que brecha fizeste! exclamou a parteira: Que a brecha esteja sobre ti!" (Gênesis 38:29). Hã? Brecha? A brecha já estava feita e, eu suponho, doendo pra cacete! E não seria superestimar as intenções de um recém-nascido? Será que o bebê não está mais preocupado em inflar seus pulmões do que em quem vai herdar a bosta do rebanho de cabritos? Enfim. Este se chamou Farés e o irmão, com a pulseirinha vermelha, Zara.

E assim termina. Os mais devotos defendem que, mesmo nessas confusas porno-chanchadas bíblicas, há sempre uma lição. Não sei o que deveríamos tirar dessa história. Sempre andar com um cabrito para poder pagar uma eventual prostituta no ato? Não sei, mas os comentários estão abertos. E que a brecha esteja sobre todos vocês!