segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Gênesis 13-15

Depois do vexame que Abrão e banda deram no Egito, eles voltaram para Betel. “Abrão”, o narrador faz questão de salientar, “era muito rico em rebanhos, prata e ouro” (Gênesis 13:2), “graças ao bumbum empinadinho de Sarai”, o narrador faz questão de esconder. Mas o que importa é que Abrão e seu sobrinho Lot resolveram dividir essas terras de meu Deus, para que seus respectivos pastores pudessem pastorear à vontade. “Abrão fixou-se na terra de Canaã, e Lot nas cidades da planície, onde levantou suas tendas até Sodoma” (Gênesis 13:12).

Apesar de ainda faltar alguns capítulos para a história tratar de Sodoma e Gomorra, o narrador já nos adianta que “os habitantes de Sodoma eram perversos, e grandes pecadores diante do Senhor” (Gênesis 13:13). A putaria rolava solta. Era Festa do Coqueiro (pode trepar que não tem galho) toda noite. Aguardem os próximos capítulos e voltemos à nossa história.

Assim que Lot deixou seu tio sozinho (coincidência?), o amigo imaginário de Abrão (Deus) lhe aparece para revelar mais abobrinhas. Entre uma bobagem e outra, o Senhor diz que a descendência de Abrão será “tão numerosa como o pó da terra: se alguém puder contar os grãos do pó da terra, então poderá contar a tua posteridade” (Gênesis 13:16). Pó da terra. Não como as estrelas no firmamento, nem como as gotas no oceano ou algo mais poético. Como o pó mesmo. Acho que foi um elogio. Enfim. Abrão “veio fixar-se no vale dos carvalhos de Mambré, que estão em Hebron; e”, tava demorando, “ali edificou um altar ao Senhor” (Gênesis 13:18).

O que acontece depois, em Gênesis 14, é uma salada de reis e nações cujos nomes parecem doenças do couro cabeludo. Mas, como sempre, eu troco em miúdos para você. Os reis de Sodoma, Gomorra, entre outras nações, serviam a um rei chamado Cordo... Codorno... Codorlaomor (ufa!). Depois de 12 anos, o saco deles enchem e eles entram em guerra contra Comolargador (tá certo?) e companhia. Depois de muito quebra-pau, os reis de Sodoma e Gomorra perdem a batalha e, no meio da confusão, Lot, sobrinho de Abrão, é seqüestrado pela gangue de Cornolamastor (quem?). Abrão, juntamente com uma equipe da Swat, vai ao resgate de seu sobrinho, dá uma surra em Courola... (ah, foda-se, desisto!) e ainda recupera os bens saqueados na batalha.

Um dos reis vingados por Abrão, “Melquisedeque, rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, mandou trazer pão e vinho (ai, ai. A última vez que tinha vinho na jogada não acabou bem), e abençoou Abrão, dizendo: ‘Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que criou o céu e terra! Bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos em tuas mãos!’ E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo” (Gênesis 14:20). É, meu caro. Esse papo de ‘dê o dízimo para o padre/pastor/sacerdote do Deus Altíssimo’ vem de longe. Se você acha que Abrão é exemplo a ser seguido, entregue sua mulher para o faraó também. E o desprendimento material de Abrão não acaba por aí. “O rei de Sodoma disse a Abrão: ‘Devolve-me os homens e guarda os bens’. ‘Levanto a minha mão para o Senhor Deus Altíssimo que criou o céu e a terra, respondeu Abrão, de tudo o que é teu, não tomarei sequer um fio nem um cordão de sandália, para que não digas: Enriqueci Abrão” (Gênesis 14:21-23). Abrão não quer saber de rabo preso nem ninguém esfregando favor na cara dele.

O tempo passa, e Abrão tem mais uma visão (leia-se “alucinação”) do Senhor Altissíssimo, em que ele diz "’Nada temas, Abrão! Eu sou o teu protetor; tua recompensa será muito grande’ Abrão respondeu: ‘Senhor Javé, que me dareis vós? Eu irei sem filhos, e o herdeiro de minha casa é Eliezer de Damasco.’" (Gênesis 15:1-2). Ok, vamos por partes. Aparentemente, o nome do Glorioso Senhor Altíssimo Criador Do Céu E Da Terra E De Tudo Que Tem O Sopro De Vida é... Javé. Meio decepcionante, né? Outros deuses tem nomes mais impactantes, como Zeus, Thor, Shiva! Mas Javé... sei lá... rima com “nhé”. Enfim, estou devaneando. Sobre a preocupação de Abrão, explico: Sarai era estéril (sorte dela que era gostosa, senão já teria sido trocada por um camelo), e por isso, o herdeiro de Abrão seria o escravo nascido em sua casa, Eliezer.

Mas o Senhor diz: "Não é ele que será o teu herdeiro, mas aquele que vai sair de tuas entranhas. (...) Levanta os olhos para os céus e conta as estrelas, se és capaz... Pois bem, ajuntou ele, assim será a tua descendência. (...) Eu sou o Senhor que te fiz sair de Ur da Caldéia para dar-te esta terra" (Gênesis 15:4-7). Abrão, que parece estar passando por uma crise de autoconfiança, choraminga: “O Senhor Javé, como poderei saber se a hei de possuir?" (Gênesis 15-8).

Agora, amigo leitor, a história descamba para uma seqüência tão sem sentido que faria um hippie chapado em LSD fazer “heim?”. Vamos dar as mãos.

O Senhor diz a Abrão: "Toma uma novilha de três anos, uma cabra de três anos, um cordeiro de três anos, uma rola e um pombinho." (Gênesis 15:9). Isso, uma rola. Quando a piada já vem pronta, não me resta muito que fazer. Adiante. “Abrão tomou todos esses animais, e dividiu-os pelo meio, colocando suas metades uma defronte da outra; mas não cortou as aves” (Gênesis 15:10). Peraí, Abrão! Deus só te disse para “tomar” esses animais! Onde você entendeu que era para esquartejá-los? Um cara desse só pode ser doido. Enfim. “Vieram as aves de rapina e atiraram-se sobre os cadáveres, mas Abrão as expulsou. E eis que, ao pôr-do-sol, veio um profundo sono a Abrão, ao mesmo tempo que o assaltou um grande pavor, uma espessa escuridão.” (Gênesis 15:11-12).

Depois desse ritual psicodélico, o Senhor Javé reaparece para Abrão com uma profecia: “Sabe que teus descendentes habitarão como peregrinos uma terra que não é sua, e que nessa terra eles serão escravizados e oprimidos durante quatrocentos anos” (Gênesis 15:13), entre outras abobrinhas. E depois, “quando o sol se pôs, formou-se uma densa escuridão, e eis que um braseiro fumegante e uma tocha ardente passaram pelo meio das carnes divididas.” (Gênesis 15:17). Hã?!? Para finalizar, Deus diz: “Eu dou, disse ele, esta terra aos teus descendentes, desde a torrente do Egito até o grande rio Eufrates: a terra dos cineus, dos ceneseus, dos cadmoneus, dos heteus, dos ferezeus, dos amorreus, dos cananeus, dos gergeseus e dos jebuseus." (Gênesis 15: 18-21). O que o senhor gosta mesmo de fazer é dar terrenos para Abrão. E acabou.

Achou confuso, chato, complicado e sem sentido? Eu também. Vou tentar resumir estes três capítulos de forma rápida e rasteira:

- Abrão e seu sobrinho Lot dividiram as terras para seus pastores.
- Houve uma guerra, Lot foi seqüestrado e Abrão foi resgatá-lo.
- Nós, leitores, temos que dar o dízimo para o padre/pastor.
- Abrão fica preocupado que não vai ter descendentes. Deus dizer para ele relaxar e gozar. Mesmo.
- Abrão mata um bando de animais, inclusive uma rola, sem o menor propósito.
- Deus diz que os descendentes de Abrão vão ser escravizados por 400 anos. Fim.

Prometo que nos próximos capítulos a história fica mais divertida. Fiquem com Deus.

9 comentários:

  1. Suzana: Putz, a festa do coqueiro novamente (ou seria ainda?). E o pior é eu ainda me mato de rir das mesmas tiradas! Mas fala sério, você vai mesmo ler o livrão todo durante o doutorado? Assim a gente até perde a razão de reclamar de falta de tempo pra fazer uma tese! hehehehe

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  2. "e eis que um braseiro fumegante e uma tocha ardente passaram pelo meio das carnes divididas"
    sempre tem churrasco na história!
    o que me faz pensar que minha alma ainda pode ter salvação. vou buscar mais um carneiro.

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  3. Amei a festa do coqueiro, não conhecia, hahahahaha!
    Meooo! O Deus de Abrão curte candomblé! E os católicos com frescuras...que façam suas batucadas também, pô!

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  4. Vejo que o autor vem desenvolvendo o dom da oratória e da escrita por deos lhe concedida. Também é possível notar que o blog ganhou uma grande letra escarlate, o que mostra que estás a pregar também! Muito bom!
    Abrão mostra mais uma vez seus valores de moral e boa conduta, volta para resgatar seu sobrinho Lot das garras dos malfeitores, pecaminosos, das terras de licenciosidade, a qual prefiro não proferir o nome. Arrisca a sua vida, seu império e se expõe a ponto de deixar a pobre esposa viúva (lembrando que ele tem a missão de repovoar a região). Mas nada disso parece comover o gélido escritor.
    Quanto aos rituais, principalmente os antigos, podem soar estranhos, talvez até um pouco psicodélicos para os dias atuais, mas é verdade também, que em diversos aspectos a ciência se mostra "mística", por assim dizer. Não haveria uma teoria que propõe que minúsculas cordas estariam por detrás de toda energia do cosmos? As quais param serem provadas seria necessário construir um acelerador de partículas de mil anos-luz de circunferência? (uma pena que o sistema solar tenha apenas mil anos-luz de circunfência). Não seriam os pequeninos elétrons guiados por um certo princípio da incerteza que aos olhos do observador se apresenta como onda ou como partícula, dependendo do que vc procura, não tendo como errar?! Sem contar o felino proposto por Schrödinger, que estaria vivo e morto ao mesmo tempo em sua pobre sacola. Me parece que a estranheza pode estar nos olhos de quem a procura, sempre mostrando a faceta que o observador assim desejar (interessante, não?!).
    Absurdos são vistos em todas as facetas da atividade humana (basta abrir o portal Terra que verás várias, renovadas a cada dia).
    Não pretendo me alongar, pois nosso destino parece sido traçado na maternidade, paixão cruel, desenfreada, Abrão mostrou isso ao fertilizar a terra e em seu leito deixar seu povo, mesmo que no futuro próximo eles seriam feitos escravos, esse era seu destino. Aliás, que diferença faz se nossos destinos realmente foram traçados na maternidade? Uma vez que vivemos em um estranho mundo regido por leis tão estranhas e bizarras como as aventuras de Abrão ;)

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  5. De tudo q o APS escreveu o q mais me impressionou foi a trema sob o Schrodinger, fascinante.
    Em tempo gravidade tambem eh uma coisa mistica e ninguem constesta.

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  6. APS - Sou grato pelos elogios e mais grato ainda por sua indispensável e fiel participação na caixa de comentários.

    Ia elogiar a trema em Schrödinger, mas Frei Beto já o fez com pronta sagacidade. Me pergunto se Jota Cê estaria tentando testar o paradoxo do gato de Schrödinger quando ressucitou Lázaro.

    Quanto à letra escarlate, sim, sou um pregador, mas ainda não cobro o dízimo. Deveria? (talvez em breve escreva um Interlúdio sobre a pregação... quem sabe)

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  7. APS é meu pastor e nada me faltará, aleluia, irmão!
    Guru, cobre dízimo sim! Vc será mais respeitado e poderá fazer comprinhas em Miami (super cafona, mas pastores são cafonas...ops! tem o APS aqui pra contra-argumentar!)

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  8. ..."cujos nomes parecem doenças do couro cabeludo"? Não seja eufêmico, irmão! A verdade pode ser cruel mas precisa ser dita. Os nomes parecem mais doenças sexualmente transmissíveis: Gomorra, Gonorréia...

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  9. De fato. Qualquer nome pode ser assutador quando sabemos que aquilo dá na genitália...

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