sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Interlúdio: Ateísmo e moral (e porque José Luiz Datena é um completo imbecil)



O apresentador José Luiz Datena acha que jornalismo é colocar sua cabeça inchada e sem-pescoço na TV e buzinar asneiras com sua voz de vendedor de pamonha. E não é só nisso que ele está enganado. Recentemente, provando que é possível defecar pela boca, Datena afirmou que ateus são "pessoas do mal", "bandidos", "estupradores", "assassinos". O colunista Hélio Schwartsman mostra, com uma elegância que você nunca vai encontrar aqui, como e porque Datena está errado e é um imbecil. Mas nós do Bíblia Twist estamos no ramo de chutar cachorro morto, e vamos cutucar ainda mais a questão aqui.

Datena não é o único que acha que a religião é a fonte de nossa moral. Muitos questionam como ateus discernem o certo do errado, o aceitável da atrocidade. Eu sou ateu e, enquanto escrevo esse post, eu não estou petiscando jujubas do meu porta-jujubas feito de um crânio de bebê cortado ao meio. Mas como, como ó Senhor, eu sei que não é certo matar um bebê para fazer um fino baleiro? Para a nossa sorte, nosso senso de certo e errado não vem da religião. Se viesse, nós ocidentais que adoramos a Bíblia Sagrada, estaríamos apedrejando um adúltero até a morte, matando alguém por trabalhar no sábado e tratando as mulheres como bons camelos. No vídeo abaixo (infelizmente, sem legenda), o ateu, assassino e estuprador Richard Dawkins resume o assunto de forma rápida e indolor.



Pessoas que compartilham as idéias do Datena adoram citar os assassinos em massa Hitler e Stalin como notórios ateus. Seguindo esta linha de raciocínio (se é que dá pra chamar de linha. “Nó” de raciocínio, talvez?), ambos usavam bigode. E é óbvio que usar bigode faz de você um tirano genocida. Isso sem falar nas atrocidades cometidas pelos outros nazistas cristãos. A fivela do cinto do uniforme nazista trazia a inscrição “Gott mit uns”, que significa “Deus está conosco”, aliás. E cá pra nós, se fôssemos contar quantas pessoas ateus e religiosos já mataram, a competição seria injusta. A Santa Inquisição Espanhola sozinha já ia definir o placar. Mas não é essa a questão. Em qualquer grande grupo de pessoas, ateus, católicos, ruivos, torcedores do Democrata de Governador Valadares, etc., você vai encontrar indivíduos bons, íntegros e honestos, e indivíduos assassinos, ladrões e estupradores. Afirmar o contrário chama-se preconceito, e é isso que o pulha do Datena fez. E o pior, esse saco de merda ambulante tem um programa só pra ele! Não é ótimo?

P.S.: O assunto foi trazido à tona pela Madre Superiora Alerrandra, assídua frequentadora e contribuidora deste blog do cão.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Gênesis 28


"Quadro de motel" de William Blake. Óleo sobre tela.

Alguns capítulos da santíssima Bíblia Sagrada são longos e não signficam nada. Outros são curtos e significam menos ainda, e assim é Gênesis 28. Olha como já começa. “Isaac chamou Jacó e o abençoou” (Gênesis 28:1). Sério, já queimaram na largada dessa vez. Isaac esqueceu de tudo que aconteceu no capítulo passado?!? Toda aquela novela mexicana de quarenta e seis versículos, dois pratos de filé mignon e um homem vestido de cabrito, pra conseguir uma benção. E agora, simples assim, ele chama Jacó e o abençoa?!? Só pode estar de sacanagem. Mas vamos em frente. Isaac ordena: “Não desposarás uma filha de Canaã”, porque o povo escolhido não pode se misturar com a gentalha que Deus não escolheu. “Mas vai a Padã-Arã, à casa de Batuel, pai de tua mãe, e escolhe lá uma mulher entre as filhas de Labão, irmão de tua mãe. Deus todo-poderoso te abençoe, te faça crescer e multiplicar, de sorte que te tornes uma multidão de povos” (Gênesis 28:1-3). Ou seja, Jacó, se case com uma prima e se reproduza como um fungo que vai dar tudo certo. Esaú, o irmão peludinho de Jacó, querendo agradar seu pai “foi à casa de Ismael e tomou por mulher, além daquelas que já tinha, a Maelet, filha de Ismael, filho de Abraão, irmã de Nabaiot.” (Gênesis 28:9). Por que não adicionar uma prima a sua coleção de mulheres?

Agora, herege leitor, vem o filé deste capítulo. Tremei. Jacó partiu rumo a Padã-Arã e, após caminhar um dia inteiro com o Sol fritando-lhe os cornos, resolveu parar no meio do deserto para passar a noite. “Serviu-se como travesseiro de uma das pedras que ali se encontravam, e dormiu naquele mesmo lugar.” (Gênesis 28:11). Jacó já sabia o conforto que um bom travesseiro ortopédico proporciona. Tanto conforto que ele sonhou com “uma escada, que, apoiando-se na terra, tocava com o cimo o céu; e anjos de Deus subiam e desciam pela escada.” (Gênesis 28:12). E quem estava no topo desta escada? Quem? Quem? Ele! O bom Senhor! E ele, em sua voz trovejante e reverberante, falou a Jacózinho e prometeu toda aquela baboseira de multiplicar a posteridade como os grãos de areia. É só isso que esse imbecil sabe prometer. Se ele tivesse prometido camisinhas, talvez hoje estivéssemos melhor.

Enfim, “Jacó, despertando de seu sono, exclamou: ‘Em verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia!’ E, cheio de pavor, ajuntou: ‘Quão terrível é este lugar! É nada menos que a casa de Deus; é aqui, a porta do céu.’” (Gênesis 28:16-17). Cheio de pavor! Terrível! Que impressão amigável que o Bom Senhor passa, não? Mas calma, Jacó! Será que não foi só um sonho? Se eu tivesse passado o dia no deserto e depois usasse uma pedra como travesseiro, eu também teria sonhos parecidos (mais provavelmente um elevador para as profundezas do inferno do que uma escada para o céu, mas enfim). Mas não, Jacó estava convencido de que aquele fora um genuíno vídeo educacional do Senhor. Ali era de fato a porta do céu (só pra mim que isso soa ridículo?). Tanto que ele fez um monumento de seu rijo travesseiro de pedra. “Tomou Jacó a pedra sobre a qual repousara a cabeça e a erigiu em estela, derramando óleo sobre ela.” (Gênesis 28:18). Eu, particularmente, não consigo derramar óleo sobre alguma coisa e não pensar em sacanagem. Mas esse sou eu, pervertido.

Jacó então bradou: "Se Deus for comigo, se ele me guardar durante esta viagem que empreendi, e me der pão para comer e roupa para vestir, e me fizer voltar em paz casa paterna, então o Senhor será o meu Deus. Esta pedra da qual fiz uma estela será uma casa de Deus, e pagarei o dízimo de tudo o que me derdes." (Gênesis 28:20-22). Aaahhh, agora tudo faz sentido! O dízimo! Javé vai te dar pão, roupa, uma viagem tranqüila e mais descendentes do que grãos de areia, e tudo que ele quer é seu dinheiro! Ora, mas esse é um negócio da china!

Será coincidência que, o capítulo que coloca Deus como ‘terrível’ e digno de ‘pavor’, é também o que sugere que você dê a Ele 10% de suas finanças? Ah, e caso você não encontre Javé pessoalmente, pode entregar o cheque para o padre/pastor que ele entrega depois.

sábado, 19 de junho de 2010

Gênesis 27

"Ah safado!" de Govert Flinck. Óleo sobre tela.

Isaac estava mais velho que andar pra frente e cego como uma toupeira. Enjoado de escutar seu radinho AM, resolveu pentelhar a vida de Esaú, seu filho favorito. “Tu vês, estou velho e não sei quando vou morrer”, disse o velho gagá. Quando alguém começa a conversa com uma chantagem emocional, é porque vai pedir coisa. Veja. “Toma as tuas armas, tua aljava e teu arco, vai ao campo e mata-me uma caça. Prepara-me depois um prato suculento, como sabes que gosto, e traze-mo para que o coma e minha alma te abençoe antes que eu morra." (Gênesis 27:2-4). É na base do toma lá - dá cá. O velho dá a benção se Esaú encher a barriguinha enrugada dele.

Rebeca, esposa de Isaac, devia estar cansada de enxugar baba e brincar de “pra-que-lado-cai?” com a benga do velho. Por isso resolveu sacaneá-lo e, de quebra, ajudar Jacó, irmão de Esaú e queridinho da mamãe. Ela escutou por detrás da porta quando Isaac alugou Esaú, e foi logo correndo para Jacó: “Ouve-me, pois, meu filho, e faze o que te vou dizer. Vai ao rebanho e traze-me dois belos cabritos. Prepararei com eles um prato suculento para o teu pai, como ele gosta, tu lho levarás e ele comerá, a fim de que te abençoe antes de morrer." (Gênesis 27:8-10). A víbora quer que Jacó se passe por Esaú para roubar essa tão cobiçada benção. Se fosse por mim, Isaac podia enfiar essa benção no rabo. Enfim. Mas Jacó, que se depila toda quinta com cera marroquina, questiona: “Mas Esaú, meu irmão, é peludo, enquanto eu sou de pele lisa. Se meu pai me tocar, passarei aos seus olhos por um embusteiro e atrairei sobre mim uma maldição em lugar de bênção." (Gênesis 27:11-12). Jacozinho fica relutante não por princípios, mas por medo do tiro sair pela culatra. É filho da mãe mesmo! Mas Rebeca não bate prego sem estopa, e já tinha pensado nesse problema da hipertricose de Esaú.

Em seu plano maquiavélico, Rebeca preparou o prato com os cabritos, “escolheu as mais belas vestes de Esaú, seu filho primogênito, que tinha em casa, e revestiu com elas Jacó, seu filho mais novo. Cobriu depois suas mãos, assim como a parte lisa do pescoço, com a pele dos cabritos” (Gênesis 27:15-16). Ó-quêi-pó-pará! Esse é o plano genial de Rebeca? Cobrir a pele de Jacó com pele de cabritos para ele ficar peludo como Esaú? Sério, ou Esaú é tão, mas tão peludo que faz o Tony Ramos parecer uma rã; ou esse plano vai dar muito errado; ou, ainda, Isaac está mais gagá do que a gente imagina. E assim foi Jacó, fantasiado de cabrito fantasiado de Esaú, levar o prato para Isaac. Que papelão.

Jacó entrou no quarto e acordou o velho. "Meu pai!" "Eis-me aqui!”, balbuciou Isaac. “Quem és, meu filho?". Jacó, na cara dura respondeu: “Eu souCOF! [engrossa a voz] Eu sou Esaú, teu primogênito; fiz o que me pediste. Levanta-te, assenta-te e come de minha caça, a fim de que tua alma me abençoe." (Gênesis 27:18-19). E o Oscar vai para… “Como encontraste caça tão depressa, meu filho?", perguntou Isaac, desconfiando que havia algo de podre no ar. "É que o Senhor, teu Deus, fez que ela se apresentasse diante de mim." Sei, sei! O velho parece não estar completamente convencido: "Aproxima-te, então, meu filho, para que eu te apalpe e veja se, de fato, és o meu filho Esaú." (Gênesis 27:20-21). Heim?!? “Para que eu te apalpe”?!? Ica! Deus me livre! Mas enfim, agora a gente vai ver se os efeitos especiais de Rebeca funcionam mesmo. Isaac ‘apalpou’ Jacó e sentiu pelos dignos de um cabrito (porque eram mesmo) em suas mãos. “A voz é a voz de Jacó, mas as mãos são as mãos de Esaú." (Gênesis 27:22). Então, concluiu o velho gagá, é Esaú. O curioso é que Deus, que faz os ovários de uma mulher estéril funcionar, não devolve a visão a Isaac. Nem manda um anjo para dar um tapa na nuca de Isaac e dizer “acorda, velho idiota!” Não. Ele não faz nada. Talvez porque ele não dê a mínima e já esteja de saco cheio dessa história, como eu e você.

Mas enfim, Isaac finamente resolve dar essa tal de benção para o falso Esaú. “Aproxima-te, meu filho, e beija-me." E sentindo sovaqueira emanando das roupas de Esaú que Jacó vestia disse: “Sim. O odor de meu filho é como o odor de um campo que o Senhor abençoou.” Tamanho era o fedor das vestes de Esaú que Isaac não percebeu o cheiro de laquê e pó-de-arroz de Jacó. “Deus te dê o orvalho do céu e a gordura da terra, uma abundância de trigo e de vinho! Sirvam-te os povos e prostrem-se as nações diante de ti! Sê o senhor dos teus irmãos, e curvem-se diante de ti os filhos de tua mãe! Maldito seja quem te amaldiçoar e bendito quem te abençoar!" (Gênesis 27:26-29). Linda benção, né? “Que você seja rico e poderoso e quem for contra você que tome no cu”. Bem no espírito bíblico.

Pois tão logo Jacó tinha picado a mula, chegou o coitado do Esaú, peludo e vermelho, trazendo o prato que lhe foi encomendado. “Levanta-te, meu pai, e come da caça do teu filho, a fim de que tua alma me abençoe." (Gênesis 27:31). “Mas será o caralho?” pensou o velho Isaac, “fiquei gagá de vez? Eu não acabei de abençoar esse f...”. E então, a ficha caiu. Isaac foi ludibriado e por isso ficou puto. “Quem é, pois, aquele fidiputa que foi à caça e me trouxe o prato que eu comi antes que tu voltasses? Eu o abençoei, e ele será bendito." (Gênesis 27:33). Esaú soltou um grito cheio de amargura, mais ou menos assim: “Mmmmmmuuuuuhhuuuuéééééénnnhhéééé… é…” e disse: “Abençoa-me também a mim, meu pai!" "Teu irmão, respondeu-lhe Isaac, veio, fraudulentamente, tomar a tua bênção." (Gênesis 27:34-35). Esaú já estava farto de Jacózinho puxando seu tapete! Porra! Assim não dá! "Será porque ele se chama Jacó que me suplantou já duas vezes? (hã?) Tirou-me meu direito de primogenitura, e eis que agora me rouba minha bênção! Não reservaste, porventura, uma bênção também para mim?" (Gênesis 27:36). E Esaú pôs-se a chorar. Mimimimi.

Isaac poderia dizer “Deus te abençoe, meu fi” e resolver o problema. Pronto, todo mundo iria pra casa feliz. Mas não, ao invés disso ele resolve fazer uma profecia. "Eis que a tua habitação será desprovida da gordura da terra e do orvalho que desce dos céus. Viverás de tua espada, servindo o teu irmão, mas, se te libertares, quebrarás o seu jugo de cima do teu pescoço." (Gênesis 27:39-40). Traduzindo, “o seu irmão mentiroso quis roubar sua benção. Eu sou gagá e idiota e deixei. Agora você vai se foder como escravo dele, a não ser que você mate ele, ok?”. E no cu, não vai nada? Esaú, amassando furiosamente uma latinha de cerveja, disse “Virão os dias do luto de meu pai, e matarei meu irmão Jacó." (Gênesis 27:41). Tenso. Rebeca, para proteger seu neném Jacó, manda-o para tirar umas férias na casa o tio Labão (aquele da laba grande), até que Esaú esqueça da mágoa. E do jeito que Esaú é abestalhado, é capaz que esqueça mesmo. E, ufa, acabou.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Interlúdio: 1922-2010.



“A Bíblia é um manual de maus costumes, um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana” - José Saramago (1922-2010).

terça-feira, 11 de maio de 2010

Gênesis 26


"Isaac e Rebeca brincando de pau-de-sebo" - 1518-1519, afresco de Raffaello Sanzio.

Senhor Javé! Rogo para que me ilumine! Como, ó, como, Senhor Meu Deus? Como o maior best-seller da história pode ser tão ruim? Me acompanhe, herege leitor.

Recordemos Gênesis 12: Abraão muda-se para o Egito. Abraão, para salvar o próprio cu, diz que sua esposa Sara é sua irmã. O Faraó fode Sara e Deus fode o Faraó.

Não precisamos retroceder muito para recordar Gênesis 20: Abraão muda-se para as terras do Rei Abimalec. Abraão, para salvar o próprio cu, diz que sua esposa Sara é sua irmã. Abimalec quase fode Sara e Deus quase fode Abimalec.

Em Gênesis 26, uma fome se abate sobre a região e Isaac muda-se, com sua esposa Rebeca, para o reino do mesmo Abimalec. Agora, quem adivinhar o que acontece, vai concorrer a um brinde exclusivo do Bíblia com Limão e Gelo: um consolo de borracha anti-alérgica com a inscrição “O Senhor é meu pastor e nada me faltará” em alto relevo! Adivinhou? Parabéns, leitor! É exatamente isso! Isaac, para salvar o próprio cu, diz que sua esposa Rebeca é, pasmem, sua irmã.

Abimalec, que apesar de já ter caído no golpe antes, se surpreende ao flagrar Rebeca brincando de pega-vareta com Isaac e diz: “É evidente que é tua mulher! E como dizias tu que era tua irmã?". Isaac, ainda abotoando seu jeans, responde “Porque eu temia que me matassem por causa dela.". Abimalec, emputecido, brada: "Que nos fizeste? Um pouco mais e alguém do povo teria abusado de tua mulher, e terias atraído o pecado sobre nós!" (Gênesis 26:9-10). Se fosse irmã, não seria abuso e nem pecado, segundo a lógica bíblica. “Então Abimelec mandou publicar (no twitter?) diante de todo o povo que seria morto quem quer que tocasse naquele homem ou em sua mulher.” (Gênesis 26:11). Foi só no meu saco que essa história já deu? Obrigado.

O que se passa depois é uma bocejante disputa entre Isaac e o filisteus por poços de água, mas vou poupá-lo deste sofrimento. Se você, leitor com conhecimento bíblico, sabe de alguma importância histórico-cultural dessa pentelhação, nos ilumine na caixa de comentários. Porque, pra mim, parece só algo tão vago que um padre/pastor pode usar como metáfora para o que for mais conveniente.

Pra finalizar, Esaú “tomou por mulheres Judite, filha de Beeri, o hiteu, e Basemat, filha de Elon, o hiteu.” (Gênesis 26:34). Não me surpreende que um homem vermelho e peludo tenha duas esposas. Não explica bem porque, mas “elas foram um motivo de desgosto para Isaac e Rebeca.” (Gênesis 26:35). Seria porque elas são filhas de hiteus e não pertencem ao povo escolhido descendente de Abraão? Quem quer ser xenofóbico e preconceituoso encontra respaldo na nossa Bíblia Sagrada. Vou lá ajoelhar no milho que dói menos.

domingo, 25 de abril de 2010

Interlúdio: Pedofilia na Igreja Católica


O papa Bentinho Décimosexto com o dedo no mel - Associated Press

Muito antes dos recentes escândalos de pedofilia na Igreja, meu sábio avô já dizia que é bom passar longe de traseira de burro e dianteira de padre. E, cá pra nós, padres bolinando coroinhas não são novidade pra ninguém. Mas, nós do BCLG, não podemos deixar isso passar em branco e fazemos as seguintes reflexões:

- A maioria dos padres (dando o benefício da dúvida) não deve furunfar com crianças, mas a simples existência de padres que o fazem nos diz um pouco sobre moral e religião. Há quem tenha a cara de pau de dizer que a religião é a fundação para nossa moral e bons costumes (leia-se “medo de ir para o inferno”). Padres vivem imersos no mundo mágico da religião 24 horas por dia. Ora, não seriam os padres os últimos a cometerem uma atrocidade dessas?

- A igreja, em especial a católica, adora dizer o que sua paróquia deve fazer com a genitália: não pode transar antes do casamento, não pode transar fora do casamento, não pode transar de camisinha, não pode transar com um amiguinho/a do mesmo sexo, não pode fazer suruba, não pode, não pode, não pode. Que tal a igreja prestar mais atenção onde está a genitália do seu clero e parar de encher o saco dos outros?

- Um padre celibatário é uma bomba-relógio. Um depravado prestes a vir à tona. A solução? Bonecos-coroinhas-infláveis!

- Quase tão ruim quanto abusar sexualmente de uma criança, é encher a cabeça delas de histórias de terror como inferno, apocalipse, pecado e um ser invisível que controla a realidade. E isso não só padres, mas pais e tios também fazem. Crianças são programadas evolutivamente para acreditar no que os pais falam, por maior que seja a abobrinha. Seria ótimo se os adultos deixassem suas crendices de lado e ensinassem as crianças como pensar, e não o que pensar.

Agora chega desse assunto horrível de pedofilia e voltemos à nossa Bíblia Sagrada, repleta de bons exemplos e histórias educativas. Para se manter atualizado nas peripécias dos Padres da Ordem de São Michael Jackson, sugiro que ame a teu próximo como a ti mesmo.

Atualização 03/05/10: Se você entende Inglês e tem estômago para ver crianças serem violentadas...

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Gênesis 25


"Pintura pequena, escura e confusa" de Benjamin West. Óleo sobre tecido.


O velho Abraão era um homem abençoado pelo Deus Altíssimo e ainda dava no couro, mesmo nos seus cento-e-cachorro-lascou-a-boca anos de idade. E como prova disso, após Sara ter passado dessa para uma melhor, ele se casou com uma mulher chamada Cetura. E ainda teve filhos que ele amaldiçoou com os nomes Zamrã, Jecsã, Madã, Madiã, Jesboc e Sué. E, como se esses nomes não fosses sacanagem suficiente, Abraão deixou toda a herança somente para Isaac. Velho filhadaputa. “Quanto aos filhos de suas concubinas (não é possível... o velho devia tomar catuaba e Caracu com ovo na veia!), só lhes deu presentes, e despediu-os, ainda vivo, mandando-os para longe de seu filho Isaac, para a terra do oriente.” (Gênesis 25:6). E, aos 175 anos de idade, Abraão vai a óbito e seu presunto é enterrado na mesma caverna em que Sara também foi enterrada. Ficou triste? Nem eu.

O primogênito de Abraão, Ismael, gerou doze filhos que foram chefes de doze tribos (isso, tribos. A Bíblia é um livro de uma era tribal. Pudera alguns conceitos estarem ultrapassados). Ismael também empacota, só que na flor da idade, com apenas 137 anos. E agora? Nem uma lágrima?

Já com Isaac o buraco foi mais embaixo. “Isaac rogou ao Senhor por sua mulher, que era estéril. O Senhor ouviu-o e Rebeca, sua mulher, concebeu.” (Gênesis 25:21). Ué! Que fácil! “Senhor”, “Sim, Isaac?”, “Minha mulher é estéril. Dá pra quebrar meu galho?”, “Demorô, véi!”, SHAZAM! Mas, apesar do bom Senhor ter agraciado Rebeca com gêmeos, a gravidez não foi tranqüila e saudável. Enquanto grávidas normais sentem o rebento dando chutinhos e se acomodando, Rebeca sentia que seus dois fetos estavam praticando o Vale-Tudo. Se na época houvesse ultra-som, os médicos tribais veriam soco, pontapé, chave-de-braço, tesoura-voadora, dedo-no-olho, fisgada e até o temido suplex-alemão. Ou talvez fossem só gases.

Mas, apesar da ausência da ultra-sonografia, Rebeca podia se consultar com o Guru da Obstetrícia Neo-Natal, o inventor de todo o sistema, Dr. Javé. "’Se assim é, por que me acontece isso?’ E ela foi consultar o Senhor, que lhe respondeu: ‘Tens duas nações no teu ventre; dois povos se dividirão ao sair de tuas entranhas. Um povo vencerá o outro, e o mais velho servirá ao mais novo.’” (Gênesis 25:22-23). Esse é o plano divino, mas Deus põe ele em prática dentro da barriga dos outros. Ó-quêi então.

E no dia do parto, surpresa! “O que saiu primeiro era vermelho, e todo peludo como um manto de peles, e chamaram-no Esaú” (Gênesis 25:25). Você leu certo, herege leitor. Vermelho e peludo. Se ainda duvida, clique aqui para ver uma fotografia de Esaú. “Saiu em seguida o seu irmão, segurando pela mão o calcanhar de Esaú, e deram-lhe o nome de Jacó.” (Gênesis 25:25). Há quem diga que Jacó, ao invés de chorar, nasceu dizendo “volta aqui, filhadaputa! Não vai escapar assim não!”. Enfim, Esaú cresceu e se tornou um destro caçador, um homem rústico, tosco, fino como apito de navio. “Jacó”, todavia, “era um homem pacífico, que morava na tenda.” (Gênesis 25:27). Leia-se frouxo. Obviamente, Isaac sempre gostou mais de Esaú, o bruto, enquanto Rebeca preferia Jacó.

Um dia, Jacó estava, de avental, preparando um saboroso guisado, cuja receita ele aprendeu no Mais Você. O peludo Esaú voltou do campo, sujo e com uma sovaqueira de derrubar o guarda, e disse “Deixa-me comer um pouco dessa coisa vermelha, porque estou muito cansado.” (Gênesis 25:30). Creio que Jacó não gostou nada que Esaú chamou seu Guisado à Moda Sul-Matogrossense de “coisa vermelha”. E ainda viu uma chance de passar a perna no seu obtuso irmão. "Vende-me primeiro o teu direito de primogenitura." (Gênesis 25:31). Jacó não é flor que se cheire, e só daria um prato de sua iguaria se Esaú entregasse seus direitos de primogênito (lembrem-se que Jacó nasceu alguns segundos depois, atracado no calcanhar de seu irmão). Esaú, cuja fome se igualava a sua burrice, topou. "’Morro de fome, que me importa o meu direito de primogenitura?’ ‘Jura-mo, pois, agora mesmo’, tornou Jacó. Esaú jurou e vendeu o seu direito de primogenitura a Jacó.” (Gênesis 25:32-33). Caiu como um pato.

E assim termina nosso denso capítulo 25, com a morte de Abraão e Ismael, e o nascimento de irmãos gêmeos que se odeiam. Há novela melhor?